O segredo do sucesso: amor, justiça e fé

Em workshop realizado na Fiep, especialistas defendem que virtudes morais são ingredientes fundamentais para o crescimento das corporações

clique para ampliar clique para ampliarWorkshop mostrou a relação entre ética e negócios (Foto: Mauro Frasson)

Podem conceitos como amor, justiça e fé serem a chave para o sucesso empresarial? Para três especialistas que apresentaram nesta segunda-feira (26) o workshop “Integridade. Um mercado em crescimento”, a resposta é sim. Os professores Alan Kolp e Peter Rea, do Baldwin-Wallace College, e o executivo Pierre Jean Everaert, presidente de honra do conselho deliberativo da InBev defendem que, no longo prazo, as organizações que praticam virtudes como essas conseguem motivar pessoas, montar equipes que se relacionam bem e transformar talento em melhores resultados corporativos.

Alan Kolp e Peter Rea começaram a fazer a conexão entre o mundo dos negócios e o conceito de integridade há cinco anos, quando lançaram o livro “Integrity is a growth market” (Integridade é um mercado em crescimento). Everaert, com experiência de quem passou por grandes corporações como Goodyear, Philips e InBev, escreveu o prefácio do livro. Em seguida, os três passaram a fazer workshops ao redor do mundo, passando por países emergentes, como Rússia, China, Índia e Brasil. Nessa palestra, trazida para Curitiba por uma parceria entre a Fiep, FAE Centro Universitário, RPC e ADVB-PR, os especialistas mostraram como virtudes que têm um fundo religioso aparecem como ferramentas importantes para sustentar o crescimento de corporações.

“Toda empresa tem um valor intangível, que não está ligado a seu patrimônio. Ele é formado pelo capital humano, as pessoas que criam valor para a companhia. Assim, boa parte do valor da empresa está nos relacionamentos entre as pessoas”, disse Rea, que dirige o departamento de administração do Baldwin-Wallace. Ele explicou que as sete virtudes, resumidas no conceito de integridade, foram lançadas como uma forma de entender esses relacionamentos e fazer o melhor uso possível das competências de cada pessoa.

Rea citou o caso de uma rede de hotéis que seleciona seus funcionários de olho no seu caráter, mesmo que eles não tenham os melhores conhecimentos técnicos. “A tomada de risco por uma empresa é inteligente quando ela é aliada à confiança entre funcionários, fornecedores e clientes. Quando há integridade nos relacionamentos. E é mais fácil ensinar competências técnicas do que mudar um caráter”, explicou.

Isso não significa que a integridade não possa ser desenvolvida pelas pessoas. Alan Kolp, que tem formação em teologia, acredita que é possível reforçar as virtudes que tornam as corporações mais fortes e duradouras. O primeiro passo é entender a presença delas no dia a dia. Kolp dá destaque especial a quatro conceitos, sendo o primeiro deles o amor. “Há três formas de definir o amor. Ele é a paixão por alguma coisa, a amizade, e o sacrifício pelo próximo. É uma virtude que leva a corporação adiante”, disse. Ele defende que pessoas motivadas, trabalhando com paixão e comprometimento são o primeiro passo para o sucesso de uma empresa.

Kolp destacou também a virtude da coragem, ingrediente essencial para que um negócio assuma os riscos inerentes ao crescimento. A ideia de justiça, defendeu o especialista, também precisa estar presente para que sejam tomadas decisões que reflitam a equidade entre as pessoas e, ao mesmo tempo, recompensem de forma justa o esforço de cada um. “Também é importante destacar a presença da fé. E não como uma palavra puramente religiosa. Entendo a fé como a confiança entre as pessoas. Para um mercado funcionar, é preciso que se acredite que o que foi prometido será entregue”, explicou. “Integridade pode ser aprendida? Sim, você pode ficar melhor nisso.”

Prática – Pierre Jean Everaert apresentou o caso da expansão da Interbrew, a cervejaria belga que se fundiu com a AmBev para a formação da InBev (hoje chamada ABInBev, por causa da aquisição recente da Anheuser-Busch). O processo começou em meados dos anos 90, quando Everaert foi chamado pelas três famílias donas da Interbrew para liderar a consolidação. Ele montou uma equipe com currículos bastante diversos, mas que passou a trabalhar muito bem junta. Fizeram aquisições no Canadá, Rússia, Coreia, China, entre outros países, até aparecer a chance da fusão com a AmBev.

“Foi preciso muita coragem para trilhar esse caminho, principalmente quando uma de nossas aquisições foi contestada pelo governo inglês. Naquele momento, decidimos ir em frente e compramos a alemã Beck’s”, contou o executivo. “Nunca pagamos um centavo por baixo do pano e nunca tivemos membros dos governos em na direção da companhia. E mesmo assim crescemos em países como Rússia e China.” O encontro com a AmBev deu o fôlego que faltava à Interbrew, que não investia na formação de jovens executivos nem tinha tradição no engajamento dos funcionários. “Se você quer crescer, precisa despertar nas pessoas a paixão pelo sucesso da companhia. Foi o que vi acontecer na AmBev.”

Na abertura do workshop, o presidente da Fiep, Rodrigo da Rocha Loures, contou o caso da Nutrimental, que passou por uma reformulação no fim dos ano 90, incorporando ao seu planejamento o princípio da integridade, juntamente com a inovação, a aprendizagem contínua e a horizontalidade. “Acredito que a integridade é um bom negócio. Não porque dá lucro, mas porque vai de encontro com a aspiração da natureza humana. Todos gostam de trabalhar em um ambiente onde impera a integridade, onde há a colaboração entre as pessoas.”

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