Autores falam do papel do dramaturgo no teatro contemporâneo

Mário Bortolotto, Roberto Alvim e Gabriela Mellão discutiram o tema, em encontro que abriu a Mostra Sesi Dramaturgia, dentro do Festival de Curitiba

clique para ampliar Os autores falaram sobre a criação do texto e a importância de a montagem dialogar com a idéia do autor (Foto: Rogério Theodorovy)

Uma mesa-redonda com os autores e diretores de teatro Mário Bortolotto, Roberto Alvim e Gabriela Mellão abriu na tarde de sábado (20) a Mostra Sesi Dramaturgia, evento especial do Festival de Curitiba. O encontro lotou o Teatro José Maria Santos, centro da capital. Durante quase duas horas, eles falaram sobre o papel do dramaturgo no teatro contemporâneo e dialogaram com o público sobre o tema. A mediação foi do professor da Universidade Federal do Paraná, Walter Lima Torres.

 

A Mostra Sesi Dramaturgia tem atividades durante toda a semana e apresenta as criações da primeira turma de novos autores de teatro formados pelo Núcleo de Dramaturgia Sesi Paraná. Criado no ano passado, o projeto tem a parceria da Fundação Cultural Teatro Guaira e o apoio do Conselho Britânico. A coordenadora cultural do Sesi-PR e a presidente do  Teattro Guaira, Marisa Villela deram boas vindas ao público.

Para Roberto Alvim, que ministra a principal oficina de formação dos novos autores, o resultado deste primeiro ano do projeto supera as expectativas. “A qualidade dos trabalhos, o comprometimento e a energia dos participantes são incríveis. O Núcleo está formando uma geração de autores antenada com o que há de melhor na dramaturgia mundial”, disse ele. “Só vivenciei algo semelhante no Rio de Janeiro, entre os 2001 e 2005, período em que surgiu a nova geração de novos autores que revitalizou a criação e a maioria é hoje referência no País”, afirmou Alvim, ele próprio fruto dessa geração.

O primeiro ano de existência do Núcleo de Dramaturgia resultou em 16 peças, que foram publicadas pelo Sesi Paraná. Segundo Roberto Alvim, essas peças poderiam ser montadas em qualquer lugar do mundo. “Os novos autores curitibanos trabalham com questões ligadas à construção do sujeito na contemporaneidade, com percepção de tempo e de espaço, de arte, de política e de existência. São questões trabalhadas autores mundiais”, disse Alvim.

 

clique para ampliar A coordenadora de cultura do Sesi-PR e a presidente do Guaira deram boas vindas ao público (Foto: Rogério Theodorovy)

Para ele, existe em Curitiba um movimento de inteligência, uma efervescência na área de artes cênicas. O Núcleo de Dramaturgia, segundo ele, catalisa, organiza e ajuda a dar vazão a esse potencial criativo. Isso, sem dúvida, se reflete não só em outros campos da cultura, mas na cidade, na sociedade, acredita. “Creio que este seja um aspecto fundamental para uma cidade que quer ser inovadora”, afirmou.

 

Norte para mudanças – Durante o debate, os autores falaram do papel do texto e seu reflexo na encenação e representação. “O dramaturgo é um mágico, que ousa falar da realidade, do homem, das percepções, dos dramas como ninguém ousa falar. Portanto, não deixa de ser um espelho que distorce a imagem, à medida que tem o poder de ir além da realidade e causar impacto sensorial”, disse Gabriela Mellão.

Para Roberto Alvim, o texto é, e sempre foi, o Norte para mudanças fundamentais no teatro. “O grande problema é quando a montagem não consegue captar ou acompanhar a poesia do autor. O papel do autor é se descolar do discurso hegemônico e criar uma poética, uma nova experiência humana. Essa visão de mundo tem de ser respondida pela montagem, encenação, representação”.

Mário Bortolotto falou de sua própria experiência como dramaturgo. “Gosto de escrever sozinho, porque também assumo sozinho eventuais fracassos”, disse. Segundo ele, cada autor, ou cada criação, tem uma origem própria. Bortolotto, por exemplo, contou que já escreveu peça a partir de um título, que forte. O trabalho fluiu a partir do título.  “Tenho boas experiências, em que o diretor dialogou com o autor. Não é preciso que seja uma direção magistral. Basta ter diálogo com o texto, que o autor se reconheça na montagem”, disse ele.  

Montagem e leituras dramáticas – A Mostra Sesi Dramaturgia terá durante toda a semana leituras dramáticas de textos produzidos pelos novos autores formados pelo Núcleo de Dramaturgia e de leituras convidadas, de outros autores. No fim de semana (sexta-feira, sábado e domingo) haverá a apresentação da peça “Como se eu fosse o Mundo”, primeira montagem do Núcleo. Confira a programação:

 

Confira a a programação: 
Montagem
COMO SE EU FOSSE O MUNDO – Drama
Dias: 26/27/28 às 21h
Texto: de Paulo Zwolinski, direção de Roberto Alvim, assistência de direção Pretto Galiotto. Com Patrícia Kamis e Thiago Luz
Um homem apaixonado por um filho, fazendo dele a sua obra. Uma mulher obcecada pelo marido, colocando-o acima de tudo. Amor, sexo, obsessões, abusos e agressões suficientes para dois personagens, para 3 vidas. Um filho, um menino, uma criança dividida na doente relação entre Pai e Mãe; como se isso fosse tudo, como se eles fossem tudo, como se eles fossem o mundo.
Duração: 70 min
Ingresso: R$ 10,00 inteira/ R$ 5,00 meia estudantes, terceira idade, funcionários do Sistema FIEP e industriários

Leituras do Núcleo de Dramaturgia (entrada gratuita)
VOCÊ
Dias: 23 às 15h e 24 às 18h
Texto: Alexandre França ; Direção: Nina Rosa Sá,
Com Ciliane Vendruscolo, Cleydson Nascimento e Uyara Torrente
Um homem, várias vozes. É a partir deste mote que a peça “(você)” se desenrola. Seis atores representam a cabeça de um indivíduo que há tempos não sai da frente da televisão. A platéia é convidada a entrar em sua mente para desvendar o que acontece a sua volta. Em meio a tanta informação se escondem segredos e neuroses que podem definir o destino da personagem
Duração: 70 min

ANTES DO FIM
Dias: 23 às 18h e 25 às 15h
Texto: Marcelo Bourscheid; Direção: Marcos Damaceno
Com  Rosana Stavis, Claudete Pereira Jorge, Luthero de Almeida, Sidy Correia e Giovana de Liz
Nesta reescritura do mito grego de Ifigênia, o exílio, o abandono, a solidão e o sacrifício são os componentes de uma longa espera, permeada pelas confissões, remorsos e discórdias de uma família que aguarda o retorno da filha mais velha. 
Duração: 70 min

(EM) BRANCO
Dias: 24 às 15h e 25 às 18h
Texto: Patrícia Kamis ; Direção: Marcio Mattana
Com Alan Raffo, Jussara Batista, Márcio Mattana, Thadeu Peronne e Vívian Schmitz
A opaca realidade que acontece em paralelo à translúcida busca por algo que apenas se intui. Pinceladas de tinta que apresentam formas reais ou abstratas em uma tela que continua em branco.
Duração: 45min

TEIA
Dias: 27 às 15h e 28 às 18h
Texto: Douglas Daronco ; Direção: Edson Bueno
Com: Pagu Leal, Giovana de Liz; Abner Valentim
“Duas mulheres – uma viúva e sua melhor amiga – se encontram para um chá da tarde. Aos poucos revelam uma teia que aprisiona lembranças, angústias, desejos e emoções”
Duração: 60 min

INVERNO
Dias: 27 às 18h e 28 às 15h
Texto: Pretto Galiotto ; Direção: Marcio Abreu
Com Paulo Alves
Um homem, uma mulher, um menino. Futuro, passado, presente. Impressões de experiências e sentimentos que se congelam em um tempo que simplesmente se sabe ser inverno.
Duração: 45 min

Leituras convidadas (entrada gratuita)
Projeto Lulu / A Caixa de Pandora
dia 23 – às 21h
Texto de Frank Wedekind, Direção de Nehle Franke
Com a Cia. dos Atores: Bel Garcia, César Augusto, Marcelo Olinto e atores convidados
Peça chave do Expressionismo alemão, intitulada A Caixa de Pandora escrita em cinco atos sendo que os três primeiros se passam na Alemanha o quarto em Paris e o quinto em Londres, é a síntese do nosso tempo por retratar seres humanos que vivem na ilusão da felicidade ou no desespero da realidade e que buscam saídas concretas para a sua medíocre existência.
Duração: 2h

Estúpido Direito de Sofrer
dia 24 – às 21h
Texto de Jô Bilac | Direção: Vinicius Arneiro
Com Carolina Pismel, Diego Becker, Julia Marini e Paulo Verlings
Quatro histórias distintas que se desenrolam em quatro bairros do Rio de Janeiro. O que as convergem, de fato, é o exercício de linguagem dramatúrgica que narra em quadros o cotidiano dessas pessoas, dando um zoom no que poderia acontecer de mais inesperado num dia (a princípio) como qualquer outro…

Mente Mentira
dia 25/03 – às 21h
Texto de Sam Shepard | Direção: Paulo de Moraes
com Malvino Salvador, Fernanda Machado e elenco.

 EVENTOS
Dia 20/03 às 15h
Mesa-Redonda O Papel do Dramaturgo no Teatro Contemporâneo, com Roberto Alvim, Mario Bortolotto e Gabriela Mellão. Mediação: Walter Lima Torres Seguido de c lançamento dos livros com peças produzidas no Núcleo de Dramaturgia SESI/PR. A mesa-redonda abordará questões como a atual situação da dramaturgia no Brasil e o papel que o dramaturgo representa no atual cenário teatral, os modos de produção, as atuais condições para a criação de novas obras e surgimento de novos autores.
Reservas pelo site www.sesipr.org.br/nucleodedramaturgia

 Dia 21 às 16h30
Exercício Cênico “Descartes com Lentes” de Paulo Lemiski, Direção de Marcio Abreu, com Nadja Naira.
Paulo Leminski imaginou uma hipotética vinda do filósofo francês René Descartes ao Brasil, a convite do conde Maurício de Nassau. Junto com sua comitiva, repleta de cientistas, naturalistas, desenhistas e pintores, Descartes tenta desvendar e descrever as excentricidades e belezas do país tropical, ou seja, procura filosofar sobre o Brasil e o modo de vida do seu povo. Escrito no final da década de 1960, o texto é considerado o embrião gerador de Catatau, a obra mítica do poeta curitibano. 

Dia 23 a 26/03 das 10h às 14h
Workshop Introdução à Dramaturgia, com Marici Salomão
Este workshop visa introduzir novos autores nas principais técnicas e teorias da dramaturgia ocidental. Constitui-se de uma parte teórica e uma prática, na qual serão desenvolvidas cenas com posterior análise da orientadora
Inscrições no site www.sesipr.org.br/nucleodedramaturgia

 

Sistema Fiep - Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná
Av. Cândido de Abreu, 200 - Centro Cívico - 80530-902 - Curitiba-PR