
Neste ano eleitoral, momento tão importante para a democracia brasileira, é fundamental que as principais forças de nossa nação se expressem e revelem os sentimentos e pensamentos que representam os mais diversos setores de nossa sociedade. Como presidente da Federação das Indústrias do Paraná, reconheço o dever de trazer a público a opinião, o entendimento e as mais profundas reflexões da comunidade empresarial, resultado de múltiplos encontros organizados pela entidade para tratar de assuntos relacionados ao desenvolvimento econômico e social; à geração de emprego e renda; à inovação e à sustentabilidade; ao desenvolvimento local e à promoção da qualidade de vida e bem estar da população.
O Brasil é hoje um protagonista de maior peso no cenário internacional. No entanto, é preciso considerar que a nossa mudança de patamar seria mais significativa não fossem as deficiências estruturais e a gestão macroeconômica fortemente concentrada nos aspectos monetários.
Conquanto a consolidação e fortalecimento do nosso mercado interno seja a via mais importante para o desenvolvimento do Brasil, não podemos perder de vista que da Ásia vem o alerta: corremos o risco da desindustrialização em virtude da perda de competitividade da economia brasileira, agravada pela valorização permanente da taxa de câmbio.
Definitivamente, não podemos mais ficar acomodados a uma economia de commodities. É necessário aproveitar agora as vantagens comparativas que detemos nesse campo para entrar de fato na economia da alta transformação (nova indústria) e do conhecimento, que prevalecerá no século XXI.
Não se pode negar o óbvio: todas as economias, mais cedo ou mais tarde, oscilarão fortemente. Uma nova configuração econômica do mundo tende a adquirir características de um sistema complexo adaptativo. Em vista disto, cada parte – econômica e política – abrigada no Estado brasileiro, terá que aprender rapidamente a se adaptar aos movimentos de um mercado em permanente evolução.
Isto requer diferentes estratégias ativas (no plural) de inserção numa economia da alta transformação e do conhecimento. Requer também mudar o padrão de relação entre Estado e sociedade, de sorte a ensejar a construção – sobretudo nas nossas cidades – de condições favoráveis ao protagonismo das populações, – especialmente quanto à inovação e ao empreendedorismo em todos os campos.
Aos governos cabe o novo papel de catalisadores das agendas estratégicas de desenvolvimento, que devem surgir de baixo para cima. Construir essas condições não é uma tarefa trivial, especialmente quando uma das maiores dificuldades do Brasil é nossa baixa capacidade – do Estado e da sociedade – de formular e implementar políticas no médio e longo prazo.
Para preparar um ambiente institucional adequado a aproveitar as sinergias entre as diversas agendas estratégicas de desenvolvimento é necessário, antes de qualquer coisa, criar uma atmosfera política favorável, avançando na democratização de instituições e procedimentos capazes de estimular, valorizar e incorporar a iniciativa, a criatividade e o protagonismo dos diversos atores da sociedade.
Por conseguinte, urge implementar um sistema de incentivos corretos para todos (pessoas e instituições) que queiram se dedicar a elaborar ou empreender soluções para os grandes desafios estratégicos que nos permitirão inovar de forma massiva. Em vez de repetir caminhos já trilhados no passado devemos nos preparar para a verdadeira mudança de época que está diante de nós. Neste sentido, propomos quatro agendas estratégicas focando grandes temas: conexão, desenvolvimento local, democratização e sustentabilidade.
Conexão – O Brasil ainda é um país isolado do mundo, seja pelo déficit de parcerias científico-tecnológicas e culturais significativas, seja pelo comércio insuficiente, seja pela língua única e exótica, seja pelo turismo incipiente. Ainda é um país desconectado internamente, por falta de universalização da conexão à internet e de convergência de tecnologias de comunicação. Também são estratégicas medidas para universalizar progressivamente o ensino do inglês – e, se possível, do espanhol – a partir do ensino básico.
Desenvolvimento Local – Não adianta mais insistir em um único grande projeto de Estado-nação. Precisamos de milhares de projetos de desenvolvimento local. O Brasil do futuro será aquele das cidades transnacionais e das cidades tecnológicas, das regiões e microrregiões que descobrem e realizam suas vocações, dos arranjos produtivos, das cadeias e das redes sócio-produtivas de inovação.
Democratização – Existe uma relação intrínseca entre democracia e desenvolvimento, que vai muito além do crescimento econômico. Um Brasil democrático tem como tarefas irrecusáveis inaugurar a Reforma Política e a Reforma do Estado. Uma Reforma Política inspirada pela necessidade de reinvenção da política, que leve em conta a democracia no cotidiano dos cidadãos. E uma Reforma do Estado que reconheça a necessidade de transitar do burocrático e ineficiente Estado-mainframe para outro, mais ágil e horizontal. Um Estado mais sensível e inteligente – por isto mais forte e não mais fraco – capaz de vitalizar a sociedade, libertando as suas energias criativas.
Sustentabilidade – País sustentável é aquele que investe simultaneamente em todos os seus “capitais” (para além da renda e da riqueza): o capital natural, o capital humano e o capital social. Somente a combinação virtuosa dessas variáveis pode garantir a sustentabilidade – que será, daqui para frente, o outro nome do desenvolvimento.
Por fim, e repisando mais uma vez, para nossa realidade não cabe a solução única, muito menos graus elevados de centralização. Necessitamos de flexibilidade e abertura para seguir em frente com soluções de arquitetura variável, em que o Brasil real se encontre consigo mesmo, na sua diversidade e no enorme potencial que dela deriva.
Rodrigo da Rocha Loures
Presidente da Federação das Indústrias do Paraná