Não é apenas pagando impostos, gerando empregos e produzindo riquezas que nós, os empresários, vamos cumprir o nosso papel de promotores do desenvolvimento. Precisamos ir além disso. Precisamos passar a exercer uma liderança cada vez mais relevante ao fortalecimento da sociedade e saneamento da política pública no Brasil.
Ir além da afirmação de que o crescimento econômico resolverá os problemas do país. Ir além da reclamação contra os altos impostos e da luta pela redução dos juros. Além da reivindicação por políticas públicas de concessão de privilégios setoriais.
Precisamos também parar de falar apenas para nós mesmos. Nossa tônica eminentemente corporativa não consegue dialogar com o resto da sociedade. Foi assim que até hoje participamos da política com uma agenda setorial, seja através de estudos de alto nível entregues as autoridades, seja articulando lobbies nos parlamentos ou nos poderes executivos, ou financiando candidaturas nas eleições. Por isso, nos convertermos em atores políticos subalternos. Os governos, agindo com esperteza, deixam pendida sobre a nossa cabeça a espada da fiscalização. Assim, nos deixamos intimidar por medo de retaliação e do uso discricionário dos instrumentos do Estado. A conseqüência é que, quase sempre, acabamos por entrar no jogo da velha política. E esse jogo é um jogo armado para nos impedir de fazer a diferença também na política.
Na verdade, não há muito que temer, porque somos também cidadãos que têm direito de assumir seu protagonismo político e de não ser ameaçado. Basta que nos organizemos para atuar sistemática e articulladamente, não como quem pede alguma coisa a alguém, mas como quem atua competentemente no contexto em que se insere. Com inteligência, determinação e desassombro.
Estou convencido de temos uma missão e para bem cumpri-la precisamos dar um salto de qualidade na participação política. Os sindicatos dos trabalhadores fazem política. Nós os empresários nos limitamos a fazer lobby. Falta compreensão de contexto e persistência na nossa atuação política.
Um episódio ocorrido durante da Constituinte de 1934 pode ilustrar bem a minha tese. O deputado Horácio Lafer do PSD-SP (1900-1965), encontra um colega no saguão do Palácio Tiradentes, no Rio. O deputado pediu uma conversa com Lafer e adiantou que era sobre negócios. “Deputado, aqui não é lugar para tratar de negócios. Se o senhor quiser falar sobre política, terei o maior prazer em recebê-lo no meu gabinete”. Lafer, liderança altamente inspiradora, foi advogado, empresário do grupo Klabin e Ministro da Fazenda de Getúlio Vargas.
Assim, influenciar de fato a agenda de interesse nacional só poderá ser efetivado a partir de uma perspectiva de grandeza e do diálogo com as forças sociais diversas e expressivas. E também com a mobilização da sociedade em torno de agendas alinhadas ao desenvolvimento do Brasil. Desenvolvimento ancorado na defesa da liberdade, da democracia, do Estado de Direito e da ética na política. Este projeto de desenvolvimento certamente vai requerer um novo estilo de liderança empresarial.
Rodrigo da Rocha Loures é presidente da Fiep e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social – CDES