
Publicado pelo jornal Gazeta do Povo, em 6 de fevereiro de 2016
Por Edson José de Vasconcelos

Devido à sua importância, aos seus impactos no cotidiano dos paranaenses e, principalmente, aos seus reflexos no setor produtivo, a concessão de rodovias é um assunto que deve, democraticamente, ser ampla, coesa e cuidadosamente debatido. E essa atenção precisa ser redobrada quando alguns, movidos por interesses que não são os da grande maioria, tentam prorrogar os atuais contratos com o expediente do aditivo.
A maioria das mais importantes federações produtivas do estado, com base em estudos técnicos e análises profundas, entendeu a gravidade de uma possível prorrogação dos atuais contratos para a economia e o futuro do Paraná. Assim, optou por posicionar-se, de forma decidida, contrariamente ao atual modelo. É preciso ressaltar a mesma compreensão que algumas regiões demonstram já ter, a exemplo do Oeste do Paraná, de onde sai grande parte da produção de commodities que historicamente ajuda a definir os belos e saudáveis contornos econômicos do estado.
As principais e mais representativas entidades do Oeste estiveram reunidas em Foz do Iguaçu para debater o assunto e para unificar posição. Diante de tudo o que pode ser visto e refletido, a conclusão não poderia ser outra senão a de rejeitar qualquer tentativa de manter as coisas como estão. Além de rejeitar o que já está posto e ultrapassado, a região comunga de outro posicionamento: de que a tarifa deveria ser a metade do que é e que o volume de obras deveria ser, no mínimo, o dobro do atual.
Muita coisa mudou de 1997 para cá e não é possível – e muito menos justo – pensar em aditivos. A quem de fato interessa manter um modelo que tanto penaliza a produção, que praticamente nada faz em obras e que tanto arrecada? Certamente não a quem paga a conta. Diante de um cenário tão amplo e tão impactante, percebo que, gradualmente, um forte movimento se informa, se levanta e se coloca contra os atuais contratos.
O Paraná não pode se render a um pretenso argumento de poucos e tão desconectados da grande maioria – assim como fazem aqueles que tão parcialmente criticam o competente e patriótico esforço do juiz Sérgio Moro de levar ao banco dos réus aqueles que deveriam defender os interesses do povo e do país, mas que se deixaram seduzir pela improbidade. É recomendável cautela aos que julgam que o jogo já terminou e que o aditivo é ponto pacífico. Tanto é assim que um grupo italiano estaria disposto a pagar R$ 2,4 bilhões, apenas de luvas, pelos lotes sob a concessão da Ecovia e da Ecocataratas. Caso esse negócio seja realmente concretizado, quem verdadeiramente vai pagar a conta? Certamente, a tarifa.
É difícil compreender quais são os reais interesses de um negócio desses, no qual os donos do imóvel são alijados da negociação. Esse valor astronômico, é bom que se diga, seria suficiente para duplicar no mínimo 600 quilômetros do Anel de Integração. Precisamos de um novo modelo de concessão, com mais obras e menos tarifa. Com a participação de empresas locais, que conhecem a história e que estão inseridas no contexto do desenvolvimento de suas comunidades.
Não há dúvida de que qualquer tendência dos homens que devem zelar pelo princípio democrático em um assunto tão amplo e complexo poderá trazer prejuízos aos maiores interessados nele (os usuários das rodovias pedagiadas). Quem trair a sua base, em um debate que tanto interessa à produção e aos paranaenses, certamente vai perder o seu bem mais precioso, a sua credibilidade, e ainda terá de conviver com uma enorme mancha em sua biografia.
Edson José de Vasconcelos, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Oeste do Paraná, é vice-presidente da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep).