Debate sobre controle de pragas fechou conferência sobre zoologia e indústria

Pesquisadores falaram sobre o uso de tecnologias para monitoramento de infestações que afetam lavouras e, consequentemente, a indústria alimentícia

Telmo de Cesaro Junior, pesquisador do IFSul, apresenta estudos realizados em parceria com a Embrapa Trigo (Foto: Mariana Fachini)

O status do desenvolvimento de ferramentas para monitoramento e controle de pragas em diferentes culturas agrícolas – que estão relacionadas à indústria alimentícia – foi o tema do último dia da primeira conferência “Zoologia na Indústria, novas tecnologias e perspectivas no auxílio à cadeia produtiva”. Realizado na semana passada, o debate fez parte da programação do 34º Congresso Brasileiro de Zoologia, realizado no Campus da Indústria, em Curitiba.

A reunião técnica para discutir o assunto contou com a participação de pesquisadores e especialistas de diferentes instituições, inclusive fundações de pesquisa ligadas a cooperativas agroindustriais paranaenses. “Cada cultura tem um vilão e, como estamos falando de biologia, isso muda muito”, explica Alfred Stoetzer, pesquisador de entomologia da Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária, mantida pela Cooperativa Agrária Agroindustrial. Segundo ele, em cereais de inverno, como trigo e cevada, os principais problemas são causados por pulgões e lagartas, que se alimentam de folhas, reduzindo a área de fotossíntese das plantas. Algo similar com o que acontece na soja, em que os problemas são tripes, lagartas e percevejos.

Porém, culturas como a do milho estão sofrendo atualmente com pragas mais complexas. “No milho, há um desafio novo que é a questão da cigarrinha, que é um vetor dos molicutes (tipo de bactéria)”, explica Stoetzer. “Então não é só o problema da praga se alimentando da planta, mas você tem a inoculação desses patógenos que, por si só, já causam muito mais dano. A gente sabe que, com pragas que são vetores, os níveis de ação de manejo têm que ser muito mais rígidos do que para outras pragas”, completa.

Também pesquisador da área de entomologia, mas da Fundação ABC –mantida pelas cooperativas Frísia, Capal e Castrolanda –, Elderson Ruthes afirma que essas pragas que são vetores de doenças causam prejuízos muito maiores para os produtores. No caso das lagartas, que se alimentam das folhas, as perdas na lavoura podem ser de 20% a 25% se não for feito o manejo adequado. “No caso do milho, com um inseto vetor de doença, a gente tem notado que, dependendo da suscetibilidade genética daquela planta, pode ter perdas de 60% a 70%, bem drástico mesmo”, explica.

Uso de tecnologias
Para ajudar o produtor no controle e manejo dessas pragas, com o objetivo de reduzir a aplicação de inseticidas, as fundações de pesquisa têm investido cada vez mais em novas tecnologias. As principais, até o momento, são plataformas para tratamento de dados coletados em campo. “Uma das formas de monitoramento ainda é ir a campo, fazendo as amostragens utilizando uma ferramenta chamada pano de batida”, conta Ruthes. “No passado, os dados coletados eram colocados em planilhas. Hoje, dentro da Fundação ABC, já existe um software, que é o Sigma ABC, em que o produtor ou o monitor, pelo smartphone, consegue fazer essa amostragem a campo e alimentar esse software. Ele verifica como está a infestação analisando gráficos, linhas do tempo e mapas de densidade populacional, tendo informações bastante importantes para a tomada de decisão”, acrescenta.

Stoetzer, da Fundação Agrária, reforça que esses softwares servem basicamente para auxiliar a tomada de decisões. “O agrônomo tem que ir à lavoura, ver o que está acontecendo, mas também recebe essa informação paralela do monitoramento para ajudar a traçar um cenário e tomar a decisão. E aqui (na conferência) estamos discutindo o que pode ser feito para automatizar ou melhorar essas ferramentas de monitoramento”, afirma.

Entre novas tecnologias em desenvolvimento estão a utilização de câmeras e sensores para identificar a infestação de pragas, além de armadilhas automatizadas. Durante a conferência, foi apresentado o status de pesquisas que vêm sendo realizadas no Rio Grande do Sul para monitoramento de infestações de afídeos em culturas de trigo. O projeto foi apresentado pelos pesquisadores Douglas Lau, da Embrapa Trigo; Rafael Rieder, da Universidade de Passo Fundo (UPF); e Telmo de Cesaro Junior, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense (IFSul).

Próximos passos
Nos três dias de conferência, aproximadamente 100 especialistas de diferentes instituições e áreas do conhecimento, participaram das reuniões técnicas. “Eles trouxeram problemáticas de grande relevância para diferentes cadeias produtivas do Estado e também propuseram ações, algumas que não conseguem desenvolver de forma individual”, explica a coordenadora do Observatório Sistema Fiep, Ariane Hinça Schneider. “Agora, o nosso desafio é identificar quais são as prioridades. Vamos convidar esses mesmos especialistas para compor grupos de trabalho para que possamos fazer projetos juntos e andar um pouco mais rápido nessas questões”, completa.

Participante da última reunião, o engenheiro agrônomo Marcílio Martins Araújo, fiscal da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), destacou a qualidade do debate. “Essa diversidade de participação aqui, com biólogos, pesquisadores, produtores, a indústria e nós do setor regulador, coloca as dores de todos nós, que podemos avaliar todo esse processo”, afirma. “Essa possibilidade de discussão traz resultados promissores para a gente repensar o que já fizemos até este momento e o que podemos tratar diferente. O uso de tecnologias é uma realidade para poucos produtores, ainda adotado muito limitadamente. É uma das ferramentas para reduzir o uso de inseticidas, para que seja usado com mais critérios, reduzindo a quantidade, a poluição, a contaminação de alimentos, mas precisa ser mais desenvolvido”, analisa Araújo, que coordena o programa de Prevenção e Controle de Pragas em Cultivos Agrícolas e Florestais da Adapar.

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