

Por concentrar unidades estratégicas de duas das maiores cervejarias que atuam no país, Ponta Grossa tem atraído investimentos de outras indústrias que fazem parte da cadeia produtiva da bebida. Engana-se, porém, quem imagina que a presença dessas grandes empresas tenha sido o principal motivo para que o município fosse escolhido como sede também da nova Maltaria Campos Gerais – fábrica de malte que será construída com investimento de R$ 3 bilhões, fruto de uma parceria entre seis cooperativas paranaenses.
Jeferson Caus, gerente comercial da Cooperativa Agrária Agroindustrial, que já possui uma maltaria em Guarapuava, explica que a localização do empreendimento, que terá capacidade de produção de 240 mil toneladas de malte por ano, está muito mais ligada ao campo do que à indústria cervejeira. “A região dos Campos Gerais foi escolhida não porque existem cervejarias ali, mas porque existe cevada ali”, explica. “Você só consegue se tornar um player importante e representativo no mercado de malte se tiver a cadeia de cevada bem desenvolvida”, acrescenta. Produzido a partir do processamento da cevada, o malte é uma fonte de açúcares fermentáveis e, dependendo de sua variedade, modifica o corpo, cor, aromas e sabores da cerveja.
Segundo Claus, junto com esse investimento bilionário na construção da maltaria vem todo um trabalho de sensibilização dos produtores rurais com o objetivo de incentivá-los para o cultivo da cevada. “Esse investimento vai ampliar a área de produção de cevada. O objetivo disso é levar riqueza e desenvolvimento para o campo por meio da cultura da cevada, proporcionando que os cooperados dessas cooperativas tenham acesso e possam produzir cevada, de maneira a rentabilizá-los adequadamente. Estamos com os olhos voltados para o campo, para o produtor e para essas cooperativas que são nossas parceiras”, completa.
Estima-se que o potencial de plantio de cevada nos Campos Gerais poderá atingir 100 mil hectares por ano, quase dobrando a área cultivada atualmente e podendo beneficiar mais de 12 mil cooperados. Além da Agrária, o projeto da nova maltaria tem como parceiras as cooperativas Bom Jesus, Capal, Castrolanda, Coopagrícola e Frísia.
Claus explica, ainda, que a cevada não concorre com a produção de milho ou soja – principais grãos cultivados no Paraná –, mas é uma opção ao trigo, normalmente utilizado como cultura de entressafra. “Nos últimos 5 anos, a cultura da cevada vem sendo mais atrativa que a do trigo. Isso pode mudar por questões mercadológicas, mas a cevada vem se mostrando muito competitiva”, afirma. O gerente acrescenta que cada produtor deve analisar qual cultura é mais adequada para seus negócios e que as cooperativas irão prestar todo o apoio técnico possível para que possam fazer a melhor escolha.

Pesquisa e desenvolvimento
A Maltaria Campos Gerais será a segunda fábrica de malte em operação no Paraná e apenas a quinta no Brasil – hoje, existem outras duas no Rio Grande do Sul e uma em São Paulo. Em Guarapuava, a Agrária Malte produz atualmente 360 mil toneladas de malte por ano, sendo a maior produtora do país, fornecendo para cervejarias de diversos estados.
Como a produção nacional de cervejas está cada vez mais variada, com novos estilos da bebida entrando no mercado nos últimos anos, os produtores de malte também precisam se adaptar. “Cada cervejaria e cerveja tem um tipo de malte específico. As grandes cervejarias não usam só um tipo de malte, às vezes usam 5 ou 10 tipos, dependendo da receita da cerveja que querem fazer”, explica Jeferson Caus.
Por isso, a Agrária Malte tem um forte trabalho no desenvolvimento do malte para atender as necessidades de seus clientes. “Definimos que tipos de especificações essa cevada deve ter para que ela possa ir para a maltaria e, lá dentro, dependendo do processo a que for submetida, ter o resultado que a cervejaria espera”, afirma o gerente. Muitas vezes, esse processo começa por um trabalho de pesquisa de melhoramento genético para a concepção de novas variedades de cevada. Além disso, é preciso garantir que essa cevada seja adequadamente cultivada no campo, entrando em cena o acompanhamento de questões agronômicas, climáticas e de qualidade do solo, entre outras.
“Nós vamos, literalmente, do campo ao copo”, garante Claus. “Vamos desde o desenvolvimento de uma nova variedade de cevada, a produção dessa cevada, armazenamento, beneficiamento, produção do malte até levar esse malte à cervejaria para produção de cerveja”, finaliza.
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