Custos de insumos e alta carga tributária preocupam microcervejarias

Sistema de arrecadação do ICMS por Substituição Tributária compromete vendas de cervejas artesanais paranaenses para outros estados

Microcervejarias sofrem com altos custos de produção (Foto: Gelson Bampi)

Mesmo apresentando expressiva evolução nas duas últimas décadas no Paraná, o mercado de microcervejarias enfrenta grandes desafios para seguir em crescimento. Os impactos da pandemia, a elevação geral nos custos de insumos e, principalmente, a pesada carga de impostos que incide sobre o produto – agravada ainda pelo sistema de Substituição Tributária adotado pelo Estado – estão entre as maiores dificuldades atuais.

Sócio da Joy Project Brewing e tesoureiro da Associação das Microcervejarias do Paraná (Procerva), Everton Delfino explica que as medidas restritivas impostas pela pandemia, que obrigaram o fechamento de bares próprios ou de terceiros em que as cervejas artesanais eram majoritariamente comercializadas, forçou as empresas a buscarem alternativas para compensar a queda nas vendas. Os negócios pela internet, então, foram um paliativo. “O mercado entendeu que o e-commerce fazia sentido porque o hábito de consumo de todo mundo mudou. E isso ajudou a segurar as pontas por muito tempo”, diz Delfino.

Depois disso, a disparada nos preços dos insumos surge atualmente como um grande desafio. “A compra de insumos pesa muito, porque a maioria é importada. O lúpulo, por exemplo, é 100% importado, agora é que tem começado a produção no Brasil, mas ainda não atende praticamente nada”, afirma. “Então, o custo de matéria prima tem sido cada vez mais alto. E como em todos os outros setores, o frete também está caro”, completa.

O peso dos impostos
Mas o que mais dificulta uma maior participação das chamadas cervejas artesanais no mercado cervejeiro brasileiro como um todo é a carga tributária elevada. Sommelier de cervejas, jornalista especializado e empresário do setor, Luís Celso Jr. afirma que, no Brasil, os impostos chegam a representar 60% do valor final de uma cerveja. “Você paga esse imposto ao longo de toda a cadeia, só que é um valor exacerbado”, afirma.

Em sua opinião, seria importante que o país adotasse um modelo de incentivo fiscal às microcervejarias similar ao que é praticado nos Estados Unidos. Neste trecho da entrevista que concedeu à revista Indústri@ do Paraná, Celso Jr. explica as medidas que impulsionaram o mercado norte-americano de cerveja artesanal:

Substituição tributária
No caso específico das microcervejarias paranaenses, há um entrave adicional, que dificulta a conquista de novos mercados fora das divisas do Estado. Aqui, a arrecadação do ICMS que incide sobre a cerveja é feita pelo sistema de Substituição Tributária, quando o imposto estadual é cobrado na saída da indústria e não sobre o valor de venda ao consumidor final no comércio.

Para vendas dentro Paraná, as pequenas cervejarias até conseguiram um diferimento na alíquota do ICMS, que desde 2020 baixou de 27% para 14%. Porém, as vendas para outros estados seguem comprometidas. “A Substituição Tributária muitas vezes impossibilita a venda para outros estados, já que chega a ter até 36% de acréscimo no valor final do produto”, explica Everton Delfino, da Procerva. “Isso limita muito a gente a atender o mercado do Paraná, que tem muitas cervejarias, enquanto poderíamos estar em outros estados que não têm tantas cervejarias e poderíamos suprir a demanda”, completa.

Solucionar essa questão é um fator decisivo para que o setor cervejeiro paranaense cresça ainda mais, segundo Luís Celso Jr. “Se, de repente, o Paraná quer se tornar uma referência e mandar seu produto para fora, a melhoria das condições de Substituição Tributária seria muito importante para que esse produto pudesse alcançar outros lugares e levar o nome da cervejaria e da indústria paranaense”, diz.

Cooperação
Para tentar aliviar os impactos da alta nos preços dos insumos e do peso da carga tributária, cada vez mais as microcervejarias do Paraná têm buscado se unir para ganhar maior poder de negociação com fornecedores. “Como somos pequenos, quando vamos comprar lata, por exemplo, como tem um volume mínimo, juntamos várias cervejarias e fazemos compras coletivas”, conta Delfino. “Temos outras micro compras, como de bolacha de chope ou rótulo, em que a gente vai se ajudando, fazendo meio como uma cooperativa para conseguir comprar em maior volume”, acrescenta.

Para Celso Jr, além dessa união, a evolução do setor passa, também, pelo desenvolvimento de outros elos da cadeia no país, incluindo uma maior diversificação na produção de malte e o início da produção de lúpulo em território nacional, entre outras ações. Confira o que ele diz:

Leia também:

Sistema Fiep - Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná
Av. Cândido de Abreu, 200 - Centro Cívico - 80530-902 - Curitiba-PR