

Com o objetivo de promover a cooperação entre academia e indústria para que o conhecimento científico seja aplicado em ações de suporte à cadeia produtiva, o Sistema Federação das Indústrias do Paraná promoveu nesta terça-feira (23/8), a I Conferência “Zoologia na Indústria, novas tecnologias e perspectivas no auxílio à cadeia produtiva”, em parceria com o a Sociedade Brasileira de Zoologia. No primeiro dia de debates, o tema central foi o manejo e controle de javalis.
A ameaça dessa espécie exótica ao meio ambiente e ao agronegócio é de ordem sanitária, por serem agentes causadores e transmissores de diversas doenças que afetam a suinocultura industrial, outras espécies e até a saúde humana. Além de sua agressividade e facilidade de adaptação, a reprodução descontrolada de javalis e a ausência de predadores naturais resultam em uma série de impactos ambientais e socioeconômicos, principalmente para pequenos produtores. Considerados invasores, eles causam perda da biodiversidade em escala global, degradam áreas de nascentes e representam um desafio para a conservação dos recursos naturais.
Felipe Pedrosa, que é doutor em Ecologia e Biodiversidade pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), pesquisador do Mão na Mata – Manejo e Soluções Ambientais, e atua no direcionamento e aplicação das pesquisas ao trabalho de manejo desses animais, explica que a melhor solução para os pequenos produtores da agroindústria é a atuação de forma integrada. “Produtores têm que se unir porque o javali não diferencia barreira. Em 95% dois casos, o problema de um envolve os vizinhos. Entender o problema além dos limites da sua propriedade para propor ações coletivas de controle é bem importante. Isso torna a busca pela solução mais viável economicamente porque os custos do manejo são diluídos entre todos os envolvidos”, resume.
Outra orientação é buscar uma consultoria técnica especializada para auxiliar na solução do problema. Tudo deve ser pautado por uma escolha de bom custo/benefício. “O produtor precisa avaliar até que ponto ele está disposto a investir na solução do problema e se o controle do javali pesa mais do que o impacto financeiro que o manejo vai lhe custar”, detalha. “Também é fundamental avaliar se a solução proposta é viável para o perfil da propriedade e da região em que ele atua”, completa.
Uma dica importante sobre o destino dos javalis e javaporcos é a não recomendação do consumo da carne desses animais. “Como não há inspeção sanitária, o consumo representa um risco à saúde humana, principalmente se a carne for manipulada e consumida de forma incorreta”, alerta o especialista. Segundo vídeos mostrados no evento, muitos rebanhos de javalis são atacados por morcegos “vampiros”, uma fonte de sangue que pode não só aumentar a população desses morcegos como a transmissão de doenças infecciosas, como a raiva.
Para Jacir Dariva, presidente da Associação Paranaense dos Suinocultores, é fundamental discutir soluções para evitar a proliferação descontrolada de javalis no Brasil. “Aqui no Paraná orientamos os produtores a investir em equipamentos de proteção em suas propriedades. Mas o desafio maior ainda é a conscientização e o apoio da sociedade sobre os sérios riscos sanitários que os javalis representam para os animais em cativeiro e para a população em geral, além dos danos irreversíveis que causam ao meio ambiente e que precisam ser debatidos e solucionados no curto prazo”, avisa.
O gerente executivo da cooperativa agroindustrial Frísia, de Carambeí, nos Campos Gerais, Ricardo Cogo, diz que a atuação da empresa está direcionada a ações de prevenção. “O foco é evitar que doenças de maior impacto econômico, transmitidas pelos javalis e javaporcos, cheguem aos criatórios de animais comerciais”, explica. “Sabemos que esse é um esforço conjunto do setor produtivo, Ministério da Agricultura (Mapa) e Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar). Aqui tivemos acesso a novas informações sobre o assunto, entendemos a dinâmica dos javalis e isso nos ajudará a disseminar entre os cooperados novas iniciativas para garantir a segurança sanitária dos rebanhos”, garante.
Ele conta ainda que a biossegurança das propriedades já cria barreiras para que animais silvestres não adentrem nesses locais. Também prevê ações de controle de pragas, roedores, insetos e de diversas espécies de animais silvestres.” É de interesse econômico numa produção de suínos manter os animais protegidos e seguros, cada um no seu espaço”, conclui.
Apesar da ameaça dos javalis à atividade agropecuária e ao meio ambiente, o Ministério da Agricultura não atua no controle populacional da espécie. De acordo com a auditora fiscal federal agropecuária do Mapa, Lia Treptow, é feito um monitoramento sanitário. O objetivo é analisar as populações, com apoio dos manejadores em campo. Os estados, por meios dos órgãos e secretarias, capacitam esses profissionais, que em sua maioria não são médicos veterinários, e os orientam sobre como fazer a coleta de amostras para pesquisa. “Hoje temos mais de 1000 amostras de javalis avaliadas que auxiliam na manutenção dos status sanitários do país, de áreas livres de determinadas doenças. Além disso, essa medida nos ajuda na prevenção da saúde humana, já que atualizamos o conhecimento de outras patologias que podem ser transmitidas por esses animais à população”, finaliza.