Em uma década, trabalho estará transformado pela Indústria 4.0

Novos processos tecnológicos exigirão uma mão de obra especializada, que poderá pleitear melhores salários com a qualificação

Imagine a possibilidade de ter a representação virtual no processo de produção de um carro: fazer um acompanhamento virtual para realizar melhorias e simulações, e, aí sim, implementar o produto.  Ou, poder acompanhar o estoque de uma fábrica em tempo real, cujos processos são automatizados, ou controlados por robôs. A realidade parece distante, mas é dessa forma que trabalharemos em, pelo menos, 10 anos, na chamada Indústria 4.0, que já é considerada por muitos especialistas a “4ª Revolução Industrial”.

“A Indústria 4.0 é a utilização de novas tecnologias de integração entre o virtual e o físico, para aumentar a produtividade e competitividade das indústrias de todos os tipos, e faz referência às três revoluções industriais anteriores: a primeira trouxe a automação por meio de energia a vapor, a segunda, a energia elétrica, no começo do século 20. Mais recentemente, nos anos 1980, foi a robotização. E agora, com a emergência da nuvem, estamos a frente de um novo salto”, diz o  gerente executivo do Senai – Centro internacional de Inovação , Filipe Cassapo.

Avanços em sistemas como o Big Data, que é, basicamente, um grande conjunto de dados armazenados, é outra ferramenta que será ainda mais disseminada em um futuro próximo. “Com a capacidade da nuvem cada vez mais gigantesca, será possível armazenar cada vez mais rápido e de forma inteligente,  com um banco de dados que gere análises sobre o produto e ajude a otimizar o processo produtivo”, explica. A descoberta de padrões e tendências, chamado de machine learning, permite a detecção de repetições de venda, por exemplo. “Vai ter um aproveitamento melhor dos dados e uma inteligência maior na hora de tomar decisões, o que aumenta a competitividade, pois é possível realizar um atendimento mais personalizado ao cliente, e customizar o produto”, salienta Cassapo.

A indústria da manufatura virtual – por meio da “internet das Coisas” – que se refere a essa revolução tecnológica que tem como objetivo conectar os itens usados do dia a dia à rede mundial de computadores – traz o conceito de que a fábrica seja 100% conectada. “Na fábrica, as máquinas poderão trocar informações, da mesma forma que ocorre a comunicação entre fornecedor e cliente”, frisa o gerente.

Cassapo salienta que a Indústria 4.0 é uma tendência na Europa, e que o Brasil deve se preparar para não perder a “onda”. “Quem não conseguir acompanhar, vai ficar para trás e perder a capacidade de produzir com custos e prazos otimizados, é uma questão de sobrevivência. Na Alemanha, essa indústria já é uma política de estado, entrar nessa indústria é um salto importante para o futuro”.

Empregos

Com tamanho avanço tecnológico, surge o receio: como será essa mão de obra, e de que forma é possível formá-la? “Tem o famoso mito de que a tecnologia vai eliminar o emprego, isso se fala desde a primeira Revolução Industrial, mas não é o caso, empregos não serão perdidos, ao contrário, se prevê um trabalhador mais qualificado. E isso será uma ótima oportunidade para dar mais acesso ao conhecimento, que não gera só espaço para trabalhar, mas possibilita que as pessoas tenham mais acesso à cultura, que exista uma melhora em seus processos pessoais”, aposta.

Para a coordenadora do Observatório Sesi/Senai/IEL, Marilia de Souza, as mudanças tecnológicas, e também sociais, vão reconfigurar os modelos de trabalho, o que exigirá mais qualificação. “Em razão do envelhecimento populacional, os profissionais terão que passar por distintos processos de educação continuada ao longo da vida para permanecerem no mercado. As modalidades de trabalho também serão distintas das atuais, com maior foco no resultado e autonomia do que na jornada de trabalho tradicional dentro do escritório”, aposta.

Cassapo crê que essa a qualificação deve começar agora. E a FIEP, como a mais importante entidade representativa da indústria no Paraná, tem como meta, por meio de suas casas, preparar este profissional para trabalhar na indústria 4.0. Os jovens estudantes do Senai, por exemplo, competem na WordSkills, maior competição de educação profissional do mundo, onde apresentam diversos projetos inovadores. Um deles foram protótipos funcionais da Indústria 4.0: o sistema vencedor conectava o crachá do funcionário com máquinas da fábrica. Com os dados profissionais do colaborador, o protótipo permitia, ou não, que a máquina fosse ligada. A medida é interessante, por exemplo, para evitar acidentes de trabalho, já que o operador sem qualificação não consegue o acesso.

Para iniciar essa formação desde cedo, o Senai tem parceria com o Colégio Sesi – alunos da rede podem fazer cursos com desconto no contraturno, o que os possibilita conhecer  essas mudanças na Indústria antes mesmo de terminarem seus estudos. “No primeiro ano do Ensino Médio fazemos uma orientação profissional para direcionar o aluno. No segundo, ele ingressa no curso e a intenção é que ele termine concomitante ao colégio. Ele sai mais preparado para o mercado de trabalho, conhecendo as novas tendências. Muitos, já terminam o Ensino Médio com um emprego”, fala o analista técnico da Gerência de Educação do Sesi, Heber Ricardo de Souza.

Sai o quadro negro; entra a experiência

Na sala de aula, as mudanças para preparar esse profissional para a Indústria 4.0 já estão tomando forma. Esqueça o modelo clássico em que um professor, diante de uma turma de alunos dispostos em fileiras expõe o conteúdo em um quadro negro, e que cabe aos estudantes absorver rapidamente tal conteúdo: as metodologias ativas de aprendizagem transformam o aluno no protagonista do processo de ensino. Em aplicação no primeiro semestre de todas as turmas de 2016 dos cursos da Faculdade da Indústria IEL, o modelo está sendo introduzido a partir dos novos alunos, mais livres dos vícios do modelo tradicional, para aos poucos ser aplicado em todo o sistema. A meta é que em 2019 a faculdade já funcione apenas desta forma.

“A aula baseada apenas em transmissão de conteúdo não atende mais as demandas tanto dos alunos quanto do mercado. A partir disso, adotamos metodologias que permitem que o processo de ensino e aprendizagem fique centrado no aluno, e não mais no professor”, explica Eduardo Vaz, gerente do IEL. Para isso, o IEL iniciou a implantação de metodologias já aplicadas em todo o mundo. Uma delas é o PBL, ou Aprendizado Baseado em Problemas (Problem-Based Learning, na sigla em inglês). O IEL lança mão de fatos ocorridos na indústria e na comunidade e os transforma em objetos de experiência e estudo. Diante deles, os alunos apresentam propostas de solução para os problemas. A pesquisa de campo é uma das ferramentas utilizadas pelos estudantes para a procura por soluções para as questões vivenciadas.

Sai de cena o modelo tradicional de aula expositiva. Na maior parte do tempo o aluno está envolvido em uma atividade prática supervisionada, diante de um problema real. A retenção do conteúdo, neste caso, se dá mais pelo fazer do que pelo escutar. “Neste modelo, o professor se vê desobrigado a ter todas as respostas na ponta da língua; ele passa a ser peça-chave na condução do aluno à análise crítica, a ser o agente que propõe soluções”, informa Vaz. Isso fomenta no aluno o espírito proativo, analítico, o ajuda a vivenciar um processo de solução do problema, e o incentiva a não se conformar com ideias prontas, fazendo-o com que exponha as suas. Exemplo: diante de um problema na linha de produção da empresa onde trabalha, como agir? Como analisar o problema e organizá-lo de forma a permitir a proposta de soluções?

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