Descontentes, insatisfeitos e inconformados

Presidente do Sistema Fiep comenta a rebelião de partidos da base aliada do governo e afirma que é hora de mudar velhas práticas da política brasileira

Publicado pelo jornal Gazeta do Povo, em 5 maio de 2014

Por Edson Campagnolo

Nas últimas semanas, a Câmara Federal foi palco de uma “rebelião” de partidos da base aliada do governo. Vários foram os motivos alegados por esses partidos revoltosos – em especial pelo maior deles. O descontentamento dos deputados dessas legendas com a divisão de cargos nos ministérios, com a falta de liberação de verbas de emendas parlamentares e com as alianças que se desenham para as eleições deste ano foram as principais razões.

Mas descontentes estamos nós, cidadãos brasileiros, com as práticas de um sistema político ultrapassado com o qual somos obrigados a conviver em todos os níveis da administração pública, seja federal, estadual ou municipal, em todos os poderes. Descontentes, insatisfeitos e inconformados com a nossa classe política, boa parte dela fazendo de cargos eletivos sua profissão e, lembrando o tempo das capitanias hereditárias, passando a função de pai para filho. E que a cada dia nos dá mostras de que parece se preocupar mais com interesses pessoais ou partidários do que com o desenvolvimento de nossa sociedade.

Descontentes com um Congresso Nacional que não assume a responsabilidade de fazer as reformas essenciais de que o país tanto precisa para destravar seu crescimento. Reformas que garantam melhores condições para a produção, acarretando em geração de empregos de qualidade e mais renda para a população – ou seja, em justiça social.

Insatisfeitos com os gastos excessivos e mal planejados, que resultam em serviços públicos de baixa qualidade, mesmo com a arrecadação de impostos batendo recordes. Inconformados com as constantes greves nesses serviços públicos, que causam prejuízos para todos. Inconformados também com benefícios aprovados em favor de quem menos precisa. Como é o caso do auxílio-moradia aos juízes e desembargadores paranaenses, definido sem que a sociedade, que vai pagar a conta, tenha sido ao menos consultada.

Descontentes, insatisfeitos e inconformados, acima de tudo, com a impunidade que parece ser a regra em nosso país. Quando a esperança na Justiça parecia estar sendo retomada com a condenação e prisão dos mensaleiros, uma reviravolta ocasionada pelas brechas da lei faz com que a mesma corte que condenou os acusados volte atrás e permita que, em pouco tempo, estejam de volta às ruas. Isso sem que a fortuna desviada dos cofres públicos tenha sido devolvida.

É claro que, entre tantos exemplos desanimadores, existem boas iniciativas. Mas, infelizmente, elas ainda são exceções. Que todo esse panorama sirva de reflexão neste ano tão importante, em que novamente elegeremos nossos representantes. Que os cidadãos de bem possam se fazer ouvir e tenhamos em nossos Executivos e Legislativos pessoas comprometidas com as mudanças das velhas práticas. É preciso que o diálogo franco com a sociedade e o cumprimento dos compromissos de campanha sejam regras para os eleitos. E que, independentemente de quem forem esses eleitos e dos interesses de cada entidade da sociedade civil, que criemos uma verdadeira mobilização em prol do pleno desenvolvimento econômico e social do Paraná e do Brasil. Essa fórmula é conhecida desde os tempos do sábio rei Salomão, que diz em seus Provérbios: “Quando os honestos governam, o povo se alegra; mas, quando os maus dominam, o povo reclama”.

Edson Campagnolo é presidente do Sistema Federação das Indústrias do Paraná (Fiep).

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