
O presidente do Sistema Fiep, Rodrigo da Rocha Loures, em entrevista à CBN Curitiba, quinta-feira (9), defendeu mudança na forma de o governo fazer política econômica, ressaltando que o câmbio fora do lugar é ruim para os empresários e para o País. “Na medida em que há desindustrialização, significa que estamos perdendo empregos e renda, conhecimento tecnológico, conhecimento empresarial”, afirmou. Rocha Loures falou sobre a expectativa com o governo Dilma, sobre as ações do Sistema Fiep com o governo estadual e sobre as eleições da Fiep. Confira a íntegra da entrevista.
CBN: As greves acontecem por uma peculiaridade, que acontece devido à inflação e pleno emprego. Não há pressão e nem há facilidade para ocupar, repor essas vagas, então existe um ambiente propício para as greves. Isso pode afetar ainda mais a indústria como é o caso da Volkswagen?
Rocha Loures: Pode sim. Eu acrescentaria outras duas razões: o imediatismo das lideranças trabalhistas e a falta de articulação apropriada para com o setor público para evitar greves desnecessárias. As greves são prejudiciais, à produção, são prejudiciais ao próprio trabalhador, na medida em que, tudo aquilo que enfraquece a empresa vem em prejuízo da comunidade de alguma maneira indireta. Está se banalizando o uso da greve. Não é preciso fazer greve para conseguir melhorias salariais.
CBN: A greve da Volkswagen, que já passou de 30 dias. Falta habilidade para negociar dos dois lados, o que está acontecendo?
Rocha Loures: Está havendo uma “exacerbação” dos líderes do sindicato dos metalúrgicos. Estão esticando demais a corda. Isso está trazendo imensos prejuízos para o estado e para o nosso país. Já são conhecidos os exemplos de indústrias que deixaram de se instalar no Paraná e se instalaram em outros estados por conta deste ambiente hostil, da maneira muito agressiva, inapropriada com que o sindicato dos metalúrgicos está lidando nas suas negociações salariais.
CBN: Outra questão do momento atual é o câmbio. O dólar barato agrada a classe média que pode comprar o Iphone, o Ipad, mas não é muito bom para o empresariado, porque ele acaba percebendo que não vale a pena exportar. Temos declarações recentes do ministro da Indústria e Comercio, Fernando Pimentel, dizendo que não há solução para isso.
Rocha Loures: Lógico que existe solução. É importante destacar que o câmbio fora do lugar é ruim para os empresários e para o País. Na medida em que há desindustrialização, isso significa que estamos perdendo empregos e, por conseguinte, renda. Estamos perdendo também conhecimento tecnológico, conhecimento empresarial.
Hoje por exemplo já nem se fabrica mais eletrodoméstico no Brasil. A gente vai às lojas, tudo made in China. Estamos deixando de gerar empregos – e empregos qualificados que são os de uma indústria de eletroeletrônico – para poder ter uma facilidade precária e provisória de importações. O câmbio super valorizado como está hoje é altamente prejudicial para a economia brasileira.Há meios de mudar? Há sim. O que é preciso é que haja uma vontade política forte da parte do governo federal no sentido de mudar a forma de fazer política econômica. Ao invés de ancorar combate à inflação na política de juros e de câmbio, passar a regular a liquidez na economia através do que se chama políticas anticíclicas.Ou seja, quando a economia está aquecida o governo gasta menos, ele tem a capacidade de regular seus gastos. E quando a economia está desaquecida, então o governo gasta mais. Mas gastar de uma maneira inteligente, fazendo investimentos, escolas, hospitais, estradas, arrumando os portos, fazendo aquilo que é necessário para dar competitividade ao país.Vivemos há mais de 20 anos com uma política econômica vesga, porque procura controlar a inflação a custa de juros altos, se valendo de uma valorização excessiva de nossa moeda para facilitar as importações. Com isso ficamos com uma economia estagnada, e com todas as seqüelas decorrentes, o desemprego de jovens, a violência, a falta de investimentos.
CBN: Muito se ouviu falar nos últimos anos a seguinte frase: a expansão da economia brasileira é uma expansão baseada no crédito. Isso significa dizer que nos estamos prosperando ou que nós estamos nos endividando? Onde é que isso vai parar?
Rocha Loures: O crédito faz parte da economia O Brasil até usa pouco crédito. Para você ter uma idéia, vamos nos comparar com o Chile, onde o crédito representa 80% do PIB. No Brasil representa metade disso, por volta de 40% e representava menos, 20%. O crédito estava muito contido. Isso acaba fazendo com que haja uma elevação das taxas de juro. O problema não está no crédito. O problema está no excesso das taxas de juro. O crédito é necessário para facilitar os investimentos, estimular o consumo. Não há problema no crédito. Quando o crédito é excessivo ou os juros são muito altos, aí é uma anomalia que acaba afetando a economia popular.
CBN: Esse pessoal comprando geladeira em prestações que somam um ano, dois anos. Carro, em prestação que somam 10, 12 anos. Isso é normal?
Rocha Loures: Eu vejo como normal. Não vejo problema, desde que haja condições de juro e uma relação equilibrada entre o montante total de crédito e o tamanho do PIB da economia. O crédito não é mal, o crédito é uma necessidade. Tanto é que as pessoas se valem do crédito. Muitas pessoas preferem ter a geladeira e assumir um compromisso que vai durar anos para pagar, mas elas passam a ter a geladeira, com a comida melhor armazenada, guardada de uma maneira mais saudável. É um beneficio, melhora a qualidade de vida das pessoas e todos querem ter mais bem estar, mais qualidade de vida. Então o consumo não é algo condenável.
CBN: O que dá para dizer sobre o cenário da economia para este ano? Em 2010 nos vimos expansão. Neste ano a gente sabe que a inflação vai passar do centro da meta e história da falta de crédito futuro.
Rocha Loures: E economia é algo muito complexo. A gente não pode dissociar dos fenômenos econômicos dois atores importantes. Um é o governo, porque ele pesa muito na economia, já que recolhe quase 40% dos impostos, a gente paga para o governo, transfere para o governo. E aí o governo realoca esses recursos. Então a atuação do governo influencia no funcionamento da economia.
Também temos a economia internacional. Dependendo da situação, da turbulência, das instabilidades, na economia internacional isso afeta também a economia nacional.Esse ano temos uma perspectiva de um crescimento da nossa economia menor do que foi a do ano passado. Então devemos ficar por volta de 4% que reflete de um lado uma retração nos gastos públicos. É um ano de novo governo federal e estadual. É natural que esteja havendo uma reacomodação, um rearranjo nos gastos públicos.De outra parte estamos com este fenômeno internacional, esta crise financeira que está afetando os fluxos de moedas e valorizando em excesso, entrando dólares em excesso na nossa economia. E o governo ainda não encontrou, não teve a capacidade de fazer aquela mudança de direção que precisa ser feita. A mudança a que já me referi, de sair da política monetária para política fiscal para controlar a inflação.
Enquanto o governo ficar ancorado na política de juros altos, como tem feito esses últimos 20 anos, é inevitável que haja muita especulação com a moeda brasileira e valorização que acaba criando todas essas distorções, em que a mais grave, sem sombra de duvida, é o processo de desindustrialização. Quando nos vimos um país que antes fabricava geladeira, eletrodoméstico, louça, brinquedos, gerava emprego aqui dentro e está agora importando isso de fora.Um país como o nosso que exporta celulose e está importando papel, que exporta minério de ferro e está importando aço, e assim sucessivamente a gente que estamos nos convertendo em um país de exportador de produtos primários de commodities, estamos deixando que a transformação, a agregação de valor que é a atividade mais nobre da indústria seja feita por indústrias que estão localizadas no exterior, especialmente na China. Estamos importando produtos e exportando empregos.
CBN: A avaliação o governo Dilma completando seis meses e superando a primeira grave crise política.
Rocha Loures: É cedo ainda para fazer uma avaliação porque a gente tem que reconhecer que a economia mundial está passando por uma reacomodação e a nacional também. Ano passado foi um ano de muita atividade econômica, gastos públicos, investimentos. Já era esperado que 2011 fosse um ano para redimensionar as atividades e também fazer uma revisão, re-planejamento das estratégias para o país.
É isso que eu sei o que governo está fazendo. O governo está ainda trabalhando, deve terminar nas próximas semanas, o seu plano de desenvolvimento competitivo que é uma visão estratégica e um conjunto de políticas públicas que possam dar competitividade a economia brasileira, que como eu já disse há pouco está perdendo rapidamente competitividade especialmente por conta do câmbio.E tem esse gargalo, que é a questão tributária. A carga tributária do Brasil além de ser alta ela é mal configurada. Nós temos deficiências na infraestrutura. Está faltando mão de obra qualificada. Nós temos uma série de áreas que precisam passar por ajustes fortes e o governo está nestes primeiros seis meses se estruturando para isso.
CBN: Tem umas coisas que o empresariado poderia dar uma ajuda também. Por exemplo: falta de mão de obra qualificada. Não dá para qualificar dentro da indústria? Contrata e já treina?
Rocha Loures: Depende, porque tem indústrias cuja atividade requer uma formação de mais profundidade. A economia brasileira ficou com um crescimento pequeno por muitos e muitos anos e de repente começou a crescer mais depressa e também começou a sofrer modificações significativas nas tecnologias. Aí está faltando mão de obra apropriada. É esse o estágio em que nos encontramos.
Lógico que a indústria pode e faz isso, ela treina, ela capacita. Mas o certo é a educação pública. Preparar os jovens em condições de eles poderem absorver essas técnicas, essas novas profissões. E o ensino público está muito atrasado no Brasil. Quando a gente vai comparar a educação pública brasileira, tem que comparar com a África, porque estamos muito atrasados nisso.Estamos trabalhando com a Secretaria da Educação do Paraná um programa para multiplicar o ensino profissionalizante no Estado, emprestando a tecnologia do Senai para o ensino público. E com o Governo Federal nós participamos da elaboração do PRONATEC, que é um programa para estimular a formação, encorajar a formação profissional. Este ano só o nosso Sesi e o Senai estão matriculando perto de 500 mil pessoas e isso é um salto de dez vezes em relação ao que era a sete anos atrás, que era 40 mil.
CBN: Na esfera estadual o Paraná precisa diversificar a economia. A agricultura que é o nosso pilar hoje depende do clima que é uma coisa muito incerta. Basta uma geada para acabar com a economia do Estado. Temos um exemplo disso na história recente. Está acontecendo a diversificação da economia do Estado do Paraná?
Rocha Loures: A economia no Paraná está evoluindo. Não no ritmo e intensidade que poderia estar caso houvesse uma articulação maior entre o setor publico e o setor industrial. Mas é inegável que está evoluindo especialmente graças ao pioneirismo, a capacidade do mundo empresarial paranaense. Mas sozinhos os empresários não vão conseguir alcançar aquela competitividade que é necessária para não ser soterrado pelo tsunami da China e dos outros países.
Aí entra o papel do Estado e nós estamos trabalhando junto com o governo do estado, com a secretaria do planejamento para a elaboração de um plano de desenvolvimento competitivo para o Paraná. Estamos trabalhando com a Secretaria de Educação para introduzir disciplinas de caráter profissional na rede pública, estamos trabalhando com o Secretário de Ciência e Tecnologia para haver colaboração entre as universidades estaduais e a indústria – para que a formação de professores e os centros de pesquisa sejam direcionados para aquelas atividades que concorram para o fortalecimento da economia paranaense.Eu estive a semana passada com o governador Beto Richa. Desde o ano passado, por ocasião da campanha, ele apresentou um plano e nós apreciamos o plano de governo dele. De nossa parte, apresentamos a agenda nossa.Nas próximas semanas, para ser mais especifico nos dias 20 e 21 de junho nos vamos realizar o Congresso da Indústria, quando faremos a conjugação dos esforços da Fiep e do Governo do Estado para ajustar, articular ações combinadas que concorram para dar ganho de competitividade ao Estado. Mas como já foi dito, é necessário também atuar na esfera federal, porque a competitividade, na verdade, é conseqüência de uma articulação de ações da esfera federal à esfera estadual e o setor privado e a universidade.
CBN: No dia 8 de agosto tem eleição na FIEP. Em dezembro do ano passado vimos uma grande polêmica, com convocação em cima da hora, o pessoal reclamando. A coisa foi para a imprensa e não acabava nunca o bafafá. O que aconteceu exatamente e que previsão o Senhor faz para esta agora do dia 8 de agosto. Vai ser mais calma?
Rocha Loures: Eu não sei porque eleição é só depois da apuração e houve uma judicialização no processo eleitoral e com isso os ânimos meio que serenaram. Por outro lado suspendeu o certame. Mas no ano passado nós convocamos, abrimos o caso para a apresentação de chapas porque havia um desconforto grande no meio empresarial de se repetir o que aconteceu durante a eleição anterior, quando o governo do estado interferiu nas eleições e procurou fazer pressões através da secretaria da fazenda, da área ambiental.
Enfim, procurar intimidar os empresários, os sindicatos para direcionar o voto para candidatos. Houve uma reação da Fiep. Eu encabecei essa reação, no sentido de que a entidade é de representação empresarial e, por conseguinte, não poderia se subordinar as conveniências e rumores do executivo.
Como surgiu esse receio no final do ano passado, em vista do fato de haver evidencias que havia pessoas próximas ao governo interessadas em ocupar através de pressão externa, eu decidi, dentro do que me autorizava o estatuto, e também de acordo com a vontade da diretoria, eu fiz a convocação.Abri o prazo para registro de chapas, para se houvesse grupos com aquela intenção, eles que fizessem o registro antes de ocupar um posto de governo que poderiam criar assim constrangimentos.E foi isso que aconteceu. Houve questionamento judicial, algo que poderia ser resolvido entre nós empresários, transferiu para a Justiça, que é sempre morosa nas suas decisões e o impasse foi criado.
Nós lamentamos muito isso, porque justamente os empresários se queixam da justiça do trabalho, porque a justiça do trabalho interfere geralmente a favor dos trabalhadores. Em vez de a justiça do trabalho deixar que nós, empresários, e os trabalhadores resolvamos as nossas diferenças, negociações entre nós, ela interfere indevidamente, dificulta e atrapalha o processo de negociação.
No caso se deu a mesma coisa, Os sindicados, os sindicados dissidentes tiveram todo o tempo do mundo para conversar e não procuraram para conversar, resolveram tumultuar. Usando palavra de estudante, embananar o processo, se valendo de recursos judiciais. Mas isso é algo que está superado. Nós vamos reabrir o prazo para a inscrição de chapas e vamos ver o que acontece agora. Os ânimos parecem que serenaram. Eu estive com o governador, o governador afirmou que não estar tomando partido de nada, que se houver qualquer tipo de iniciativa é localizada, mas que o governo não tem nenhuma posição com relação a isso.
CBN: Você não é candidato, não pode?
Rocha Loures: Eu não posso e também não quero. O nosso mote era renovação, e a renovação aconteceu. Fizemos uma profissionalização, promovemos uma profissionalização e modernização radical no Sistema. Hoje a Federação é uma instituição parceira de centenas de entidades no Paraná, no Brasil e no mundo e é respeitada, é admirada. Nós temos uma produção extraordinária de serviços sendo feitos esse ano. Fizemos muitos investimentos. Tudo isso em conseqüência de um clima de operação voltada realmente para o interesse da indústria.