
Mão de obra, infraestrutura logística e legislação trabalhista. Estes são os três temas que mais preocupam os empresários e executivos da indústria automotiva paranaense. Esse diagnóstico é fruto da discussão realizada na tarde desta quinta-feira (05) durante reunião do Fórum Setorial Automotivo, promovido pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep). A iniciativa tem como objetivo discutir com o empresariado os gargalos e as oportunidades deste setor, que engloba, além das montadoras de veículos, a fabricação de máquinas e peças automotivas e os fornecedores diretos de assessórios e equipamentos. Trata-se de um importante segmento da economia paranaense, que emprega 36.666 pessoas e responde por 14,8% do PIB industrial do Estado, o equivalente a R$ 7,7 bilhões por ano.
A questão da qualificação da mão de obra foi levantada também em 2009, quando foi realizada a primeira edição do fórum setorial. Na ocasião havia grande preocupação com o preenchimento de vagas tanto técnicas quanto gerenciais nas indústrias do Estado. Para enfrentar esta questão, o Sistema Fiep, por meio do Senai, trabalhou na elaboração de cursos de formação e aprimoramento com foco nestas demandas. Em 2010 foi criado em Curitiba um centro de formação do Senai voltado ao setor automotivo. No campo do ensino superior, foi formatado um curso de especialização voltado à formação de engenheiros automotivos. Este curso, que atualmente está na sua segunda turma, teve sua grade curricular desenhada junto às empresas automotivas de acordo com as suas necessidades específicas. Outra iniciativa diz respeito a um curso de extensão, articulado junto à Famec, voltado à gestão de pessoas e que tem como público alvo os supervisores de produção das indústrias.
“A Fiep cumpriu sua palavra.”, avalia o gerente regional da Volvo do Brasil, Alexandre Parker. Na opinião do executivo, é preciso uma ação conjunta para solucionar um problema estrutural como a questão de mão de obra, mas as iniciativas encampadas pela federação já estão tendo impactos positivos.
Na opinião de Parker, hoje o principal inimigo do setor produtivo é o chamado “custo Brasil”, que engloba a alta carga tributária, a insegurança institucional e deficiências de infraestrutura em diversas áreas. Ele cita estudos que apontam que o mesmo produto fabricado em Curitiba é até 30% menos competitivo do que o mesmo produto fabricado na Europa, e 40% menos competitivo do que na China. Dentro deste contexto, ele destaca também o “Custo Paraná”, que estaria prejudicando a competitividade das indústrias locais. Dentre essas causas, ele cita os gargalos logísticos nos portos e aeroportos do Estado e a atração de investimentos por outros estados, com destaque para os vizinhos Santa Catarina e São Paulo.
Também o vice-presidente da Renault, Alain Tisseir, atentou para esta questão. Segundo ele, o crescimento do mercado interno é tão grande que muitas vezes minimiza a percepção dos efeitos da falta de competitividade. Porém ele não acredita que esta situação possa se sustentar por muito tempo. “Espero que a nossa falta de competitividade não abra caminho para importações em excesso.”, afirma.
Dentre os empresários que participaram do fórum setorial, a maior preocupação é a legislação trabalhista, que coloca em campos opostos trabalhadores e empregadores. Na opinião de muitos presentes, a negociação com os sindicatos profissionais costuma ser muito pesada. “Ou paga, ou pára”, resume Parker, citando a ameaça de greve, que sempre ronda estas negociações. Recentemente a Volvo e seus funcionários fecharam questão para o pagamento da maior participação nos lucros e rendimentos da sua história, R$ 15 mil para cada colaborador.
Para o presidente da Fiep, Rodrigo da Rocha Loures, este tipo de articulação, apesar de pontual, sempre ganha mais força quando é encampada de forma conjunta. Ele colocou a Fiep à disposição dos empresários para ser um canal de interlocução junto às esferas competentes, tanto na esfera estadual quanto federal. Os argumentos desta negociação ficariam por conta das próprias empresas e das entidades representativas.
As demandas dos diversos setores industriais do Paraná, que vem sendo sistematizadas através dos fóruns setoriais, serão discutidas durante o Congresso da Indústria, que será realizado em junho deste ano.
Outra demanda do setor automotivo trazida para a Fiep em 2009 se refere a mapeamento do setor. A resposta da federação veio em 2010 com a publicação de um trabalho prospectivo que levantou os possíveis cenários para esta indústria em 2020, elencando suas perspectivas com foco nos problemas locais.
Além destas ações, a Fiep vem promovendo o agrupamento dos empresários locais em torno da discussão das problemáticas comuns a mais de um setor, como é o caso da indústria metal mecânica, automotiva e de reparação de veículos.