Por um novo pacto federativo

Em artigo publicado na Gazeta do Povo em 30 de setembro de 2010, presidente da Fiep diz que País necessita de um novo pacto federativo, que dê mais poderes e recursos para os municípios

Cada país, estado e município deve ter um projeto de desenvolvimento cujo objetivo primordial é proporcionar um ambiente favorável ao engajamento das pessoas em empreendimentos que geram riqueza e bem-estar para a comunidade. E estes empreendimentos devem nascer com a marca da sustentabilidade, aproveitando os recursos e as potencialidades locais. Inclusive a extraordinária criatividade humana que felizmente se distribui igualmente na geografia.

Se o poder de gerar riqueza está dentro de nós, na nossa imaginação e criatividade individual e coletiva, o poder de multiplicar esta riqueza está na nossa capacidade de cooperação. É na união, no associativismo e na atuação coletiva que encontramos a força das empresas e das comunidades.

O Sistema FIEP tem feito a sua parte, como agente catalisador de diversas ações que apóiam o fortalecimento das lideranças locais, visando transformá-las em agentes de transformação das regiões e, principalmente, das cidades.

Essas ações, reunidas no eixo estratégico denominado Cidades Inovadoras, mobilizam cerca de mil profissionais atuando sistematicamente e mais de 120 mil voluntários, espalhados por todo o Estado.

A iniciativa Redes de Desenvolvimento Local, por exemplo, leva aos bairros das cidades agentes que ajudam os moradores a traçar um plano de ação para melhorar a qualidade de vida na localidade, em um processo discreto, mas transformador.

Como a busca pelo bem-estar depende de um governo capaz de ouvir a população, com uma gestão transparente e qualificada, desde o início do ano a Fiep coordena em Curitiba o trabalho do Centro Internacional de Formação de Atores Locais (Cifal), ligado ao Instituto das Nações Unidas para Treinamento e Pesquisa (Unitar), e que capacita gestores públicos.

Outra ação importante e reconhecida internacionalmente é o Movimento Nós Podemos Paraná, liderado pela Fiep, que propôs antecipar no Estado o cumprimento dos Objetivos do Milênio (ODM), criados pela ONU. O prazo estabelecido era 2015, mas o Paraná deve atingir já neste ano, sete dos oito objetivos do milênio. Há uma semana, esta experiência foi destacada na Assembleia Geral da ONU como a mais relevante do mundo.

O sucesso do Nós Podemos só foi possível com a articulação de uma rede de mais de 100 mil voluntários presente em todos os 399 municípios do Paraná. E com o importante apoio do Observatório Regional de Indicadores de Sustentabilidade (Orbis), que mantém um banco de dados sobre os ODM.

O mais novo projeto do Sistema Fiep tem como palco de atuação os municípios. Chamado de Cidades 2030, coloca à disposição das cidades uma metodologia para criar um plano de desenvolvimento de longo prazo. Em março, entregamos o plano de ação do Curitiba 2030 e já estamos articulando o Londrina 2030.

Sabemos, porém, que é preciso avançar nas mudanças legais que propiciem o aprofundamento do desenvolvimento iniciado no interior das próprias comunidades. E isto só será possível com um Novo Pacto Federativo que devolva às cidades recursos e poderes regulatórios.

Enquanto a União vem concentrando cada vez mais poderes, os estados e, especialmente, os municípios sofrem enfraquecimento, em um processo de quase “asfixia”. Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), de todos os impostos e tributos arrecadados atualmente no Brasil 70% vão para os cofres da União, 25% para os estados e somente 5% para os municípios. No entanto, cabe aos municípios a manutenção de boa parte das ações nas áreas da saúde pública, educação, segurança pública e assistência social, dentre outras, sem contrapartida financeira.

O nosso desenvolvimento equilibrado e sustentável depende do ajuste dessas distorções. É imperativo rediscutir, com transparência e coragem um novo Pacto Federativo que certamente deve passar pela reforma fiscal e tributária.

Hoje completamos uma trilogia desta coluna: o imperativo do voto distrital misto para regenerar a representação política; a necessidade de uma gestão pública inovadora e responsável; e o desenvolvimento equilibrado e inclusivo de todas as cidades e localidades. Três pilares que acredito serem bases estruturantes do desenvolvimento sustentável, democrático e ético que sonhamos.

Rodrigo da Rocha Loures, presidente

Sistema Fiep - Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná
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