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O lançamento do Selo Quilombola, uma certificação da origem de produtos oriundos de comunidades rurais negras, remanescentes do período de escravidão, e o anúncio feito pelo Sesi Paraná de dois cursos específicos para afro-brasileiros estão entre os principais resultados da I Feira Quilombola do Paraná, realizada sexta-feira e sábado (27 e 28), no Cietep, em Curitiba.
Promovida em conjunto pelo Instituto Adolpho Bauer e o Sistema Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), por meio do Sesi Paraná, a Feira Quilombola lotou o espaço principal do Cietep com artesanatos, frutas, legumes, doces e mel produzidos por 23 das 86 comunidades quilombolas do Paraná. O objetivo do evento foi dar visibilidade à existência e às condições destas comunidades, fortalecer e valorizar sua produção e estimular o debate sobre a questão da igualdade racial.
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O evento foi aberto com uma performance sobre a cultura afro e os quilombolas do Brasil. O público aplaudiu de pé os atores Geisa Costa e Ronald Pinheiro, que interpretaram texto de Rafael Camargo, entremeado com música e percussão e fotos retratando as comunidades negras. A direção foi de Isidoro Diniz.
A importância da inclusão efetiva da população negra para o desenvolvimento do País foi ressaltado pelos participantes da Feira. “A conquista da igualdade racial não deve ser entendida como de responsabilidade apenas da população negra, mas de toda a sociedade brasileira”, disse o ministro chefe da Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Elói Ferreira de Araújo, no evento. “É assim que entendemos o Estatuto da Igualdade Racial, que entra em vigor em outubro”, afirmou.
O presidente do Sistema Fiep, Rodrigo da Rocha Loures também enfatizou a riqueza da cultura negra e sua contribuição para a formação da identidade brasileira. “É imperativo para o País corrigir a exclusão. É preciso intensificar programas de educação básica e educação profissional voltados a jovens afro-brasileiros, de forma a que possam desenvolver à plenitude o potencial criativo e empreendedor”, disse Rocha Loures. “O Sistema Fiep participa deste processo, já que faz parte da missão da nossa entidade identificar o que é relevante para o desenvolvimento sustentável do Paraná”, afirmou ele.
Para Adilton de Paula, coordenador do Instituto Adolpho Bauer, a feira se constituiu em um momento histórico para o Paraná. “Temos a maior população negra do Sul do Brasil e resgatar essa cultura, sem dúvida, contribui para compor a própria história do Estado”, disse Paula.
Participaram da feira representantes dos Ministérios do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, da Justiça, da Saúde e da Cultura; o presidente do grupo Clovis Moura (que representou o governador Orlando Pessuti), e o presidente da Anceabra, João Bosco de Oliveira Borba.
Empreendedorismo – Os cursos destinados a afro-brasileiros serão ofertados pelo Sesi Paraná, em parceria com o Instituto Adolpho Bauer e a Associação Nacional de Empresários e Empreendedores Brasileiros (Anceabra). Um deles é para a Formação de Afroempreendedores e deverá ser ofertado a partir do ano que vem. “Os afro-brasileiros já possuem forte cultura empreendedora e criativa. O curso visa capacitá-los para elaboração de planos de negócios, para que possam criar empreendimentos produtivos e lucrativos, incluindo experiências em incubadoras”, explicou Maria Cristhina Rocha, gerente de Projetos Estratégicos do Sesi-PR.
Já o Curso de Qualificação Profissional para o Setor Químico Plástico, de gestão e de apoio à gestão, é direcionado a alunos egressos do ProUni (Programa Universidade para Todos, do Ministério da Educação). O início está marcado, também, para 2011. “A qualificação é o principal caminho para abrir oportunidades à população negra e garantir as futuras gerações um avanço ainda maior, como, por exemplo, acesso a cargos de decisão nos mais diversos setores”, disse Adilton de Paula.
Identidade cultural – Lançado pelo presidente Lula em 2009, o Selo Quilombola busca atribuir identidade cultural aos produtos de procedência quilombola. O selo integra o eixo de Fomento ao Desenvolvimento do Programa Nacional Brasil Quilombola, que envolve 23 ministérios. O Paraná é o terceiro Estado do País, e o primeiro do Sul, a adotar o selo em âmbito local
Segundo a diretora de Programas para as Comunidades Tradicionais da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Ivonete Carvalho, o selo busca dar visibilidade aos produtos das comunidades rurais negras. “Isso facilita a inserção da produção quilombola nas redes de comercialização tradicionais, o que contribui para o desenvolvimento sustentável das comunidades”, disse Ivonete.
Segundo Ivonete, hoje produtos de 45 quilombos já possuem o selo. Em todo o País existem mais de 5 mil comunidades quilombolas, das 3.500 são reconhecidas e 1.523 já certificadas pela Fundação Palmares, como símbolos de caráter cultural. No Paraná são 34 quilombos certificados pela Fundação.
Leia mais sobre os debates realizados nos dois dias da Feira: mudanças verificadas no Brasil em relação à cultura afro; sobre a lei que introduz estudos sobre a cultura negra nas escolas públicas e particulares, e sobre o bate-papo do rapper MV Bill sobre o tema educação e sustentabilidade.