Pesquisador antecipa as mudanças previstas para as cidades

Casas tecnológicas, alimentos saudáveis e meios de transporte mais limpos e velozes devem fazer parte do cenário da vida urbana a partir de 2030

clique para ampliar Marc Giget fala na Fiep sobre as mudanças nas cidades (Foto: Gilson Abreu)

Casas altamente tecnológicas, mais verticalizadas, com amplo espaço em ambientes comuns como salas e cozinhas e ao mesmo tempo espaço destinado ao uso pessoal como um casulo; meios de transporte mais velozes, mais limpos e específicos para cada tipo de translado (curta ou longa distância); alimentação mais saudável e voltada para frutas, verduras e legumes. Estas devem ser algumas características da vida nas cidades daqui a 20 anos, de acordo com pesquisas de universidades de várias países. O tema foi detalhado pelo diretor do Instituto Europeu de Estratégias Criativas, da França, Marc Giget, na palestra “A Vida nas Cidades a partir de 2030”, realizada por iniciativa da Fiep, na noite da última segunda-feira (22), em Curitiba.

Formado pela Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais e doutor em Economia Internacional pela Universidade de Paris, desde que criou o Instituto Europeu de Estratégias Criativas, Giget se dedica a pesquisas ligadas à inovação e durante a palestra trouxe à discussão vários prognósticos do futuro.

“Não há nenhuma grande revolução à primeira vista, mas são mudanças significativas, muitas já em curso, que farão total diferença na nossa forma de enxergar o mundo e dialogar com ele”, enfatiza Giget. Por isso, a necessidade de se fazer uma reflexão diante de um futuro não tão distante. Citando Leonardo da Vinci ‘não antecipar é gemer’, o cientista social reitera a importância de antecipar o futuro como forma de prever futuros problemas e já buscar as soluções para eles.

A grande mudança em relação às casas e domicílios é o desenvolvimento sustentável, já em prática em muitas cidades do mundo. Não se pensa em mudanças radicais já que as pessoas são apegadas as suas casas. Vemos uma volta às casas com átrio como na Antiga Mesopotâmia ou Grécia Antiga, em que a natureza entra em casa, trazendo luz e calor. Com inverno e chuva seria um problema, aí é que entra a tecnologia para isolamento térmico entre outras modernidades. “O futuro não é a negação do passado é a retomada dos objetivos técnicos, de conforto e segurança alinhados às novas possibilidades”, enfatiza.

Giget também mostrou como deverá ser o desenho das cidades no futuro. Já existe pesquisa do Instituto Europeu de Estratégias Criativas que mostram que os novos edifícios serão energeticamente autônomos e neutros em emissões de gás carbônico. “Chamadas de Cidades – Colina, as novas cidades serão menos horizontalizadas e mais verticalizadas, ocupando menos perímetro urbano. Essa economia de espaço vai trazer a aproximação das pessoas, não só fisicamente, mas no modo de organização social, com um fortalecimento das redes e da vida em comunidade”.

Alimentação – Dentro os tantos assuntos abordados, comida é um tema que chama muito atenção. Atualmente vive-se um medo eminente da falta dela para todos. Para Giget, em nível global não há grandes riscos de faltar alimento, pois além de novos tipos de alimentos, haverá uma grande revolução verde, voltada para frutas, verduras e legumes mais saudáveis, com menor quantidade de sal e açúcar. “No futuro vamos comer as mesmas coisas que hoje, só que os nutrientes dos alimentos estarão potencializados pelas pesquisas que a biologia molecular tem nos trazido. E podemos ter alimentos mais atrativos para crianças, por exemplo, um vegetal em formato de pirulito ou algo do gênero”, ressalta.

O pesquisador mostrou vários protótipos de novos veículos, demonstrou como serão as aulas no futuro com processo educativo mais atrativo e interativo, a mudança da ideia de televisão trazendo obras de museus para dentro de casa, maior exploração do universo ao alcance de todos e não apenas de cientistas. Também apresentou a futura forma de comunicação inter-culturalmente com um equipamento de tradução simultânea quebrando a distância cultural da língua em tempo real; a medicina que terá as funções de salvamento, controle e monitoramento com as novas técnicas preventivas, entre outras possibilidades.

Planejamento – “As tecnologias estão avançando a passos cada vez mais velozes e qualitativos e as relações que se faz entre essas novas tecnologias e a novas potencialidades é o encontrar o que as pessoas realmente desejam para o futuro”, daí a necessidade de se fazer um retroplanejamento. “Se no futuro queremos que haja pouco consumo de energia, com base nas novas tecnologias já podemos estudar e definir como alcançar esse baixo consumo nos próximos anos”, afirma.

Para fazer esse retroplanejamento, Giget explica que é imprescindível a reflexão coletiva de todos os setores da sociedade. Segundo ele, os pesquisadores podem apontar como já foi no passado e como está sendo feito no presente; empresas e empresários que lidam diretamente com os produtos reais, podem dizer o que funciona e o que não funciona; os adolescentes podem apontar em que tipo de mundo querem viver; os idosos que não serão impactados diretamente mas pensam em seus descendentes e, por isso, possuem visão filosófica e otimista; e também as crianças que ainda não têm nenhuma preocupação quanto ao futuro e, por isso mesmo, pensam em soluções criativas e animadas. “A oportunidade de um diálogo com todos os tipos de pessoas é o que nos trará respostas para o mundo daqui a 20 e 30 anos”, acredita Giget.

O cientista social também abordou a necessidade do ‘reencantamento do mundo’ preconizado por Max Weber para que questões psicológicas, sociológicas e tecnológicas tenham valor agregado e estejam disponíveis para todas as pessoas. “Quando olhamos para o passado, vimos que o essencial não muda. Mozart nasceu em 1756 e ainda continua sendo o número 1 da música clássica; a Torre Eiffel foi construída em 1889 e continua sendo um dos pontos turísticos mais visitados em todo o mundo; as sandálias Havaianas foram lançadas em 1962 e continuam líder de mercado e devem acompanhar até 2030 ou 2040”.

A palestra foi uma iniciativa do Sistema Fiep, como parte do programa Cidades Inovadoras que engloba um conjunto de ações de curto, médio e longo prazos voltadas ao desenvolvimento local em Curitiba, região metropolitana e interior do Paraná.

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