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A dramaturgia no teatro, no rádio, no cinema e na televisão foi o tema da mesa-redonda que reuniu os autores britânicos Chris Dolan e David Ian Neville e o brasileiro Fernando Bonassi. O debate sobre autores múltiplos, que transitam sobre as diferentes linguagens da dramaturgia, aconteceu sexta-feira (30), no auditório da sede do Sistema, foi promovido pelo Núcleo de Dramaturgia Sesi Paraná, com apoio do British Council.
O encontro lotou o auditório da sede do Sistema Fiep e teve a presença da coordenadora de Cultura do Sesi Paraná, Anna Zetola; do diretor do British Council, Geoff Smith. O coordenador de conteúdo do Núcleo de Dramaturgia Sesi Paraná, Marco Damaceno, mediou o diálogo dos autores.
Fernando Bonassi traçou o panorama para os autores no Brasil. Dolan e Neville falaram sobre a característica peculiar da Grã-Bretanha, que é a da prevalência da dramaturgia no rádio. Os britânicos também ministraram um workshop de dramaturgia, realizado sexta-feira e sábado, exclusivo para os participantes da Oficina Regular do Núcleo de Dramaturgia.
Segundo o roteirista, dramaturgo, cineasta e escritor Fernando Bonassi, a indústria cultural surgiu no Brasil, de fato, nos últimos 30 anos. “Foi neste período que o País se aparelhou e se profissionalizou”, disse ele. “Hoje o Brasil tem uma oferta muito grande de mídias, um quadro com uma série de possibilidades para autores, que a minha geração não tinha”, afirmou.
Bonassi falou de sua trajetória pessoal e profissional. Oriundo de família de operários do ABC paulista, ele próprio trabalhou no chão de fábrica da indústria automobilística. “Transformei-me em escritor antes mesmo de ser leitor”, disse ele.
No cinema, Fernando Bonassi assina roteiros como Os Matadores (de Beto Brant); Castelo Ra Tim Bum (de Cao Hamburger), Estação Carandiru (de Hector Babenco) e Cazuza, O Tempo Não Pára (de Sandra Wernneck). No teatro, tem as montagens de Apocalipse 1,11 (em colaboração com o Teatro da Vertigem); “Souvenirs” e “O Incrível Menino na Fotografia”.
O autor paulista tem diversos prêmios como roteirista e dramaturgo, além de textos em antologias na França, EUA e Alemanha. É roteirista do seriado Força Tarefa, da Rede Globo de Televisão. “A gente lida com a indústria cultural e são relações de trabalho diferentes para cada área. Mas reservo a literatura como o lugar de liberdade para a minha criação”, afirmou.
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Rádio Dramaturgia – A presença da BBC na produção cultural e no mercado para autores britânicos foi uma das tônicas da participação de Chris Dollan e David Ian Neville no debate. A emissora estatal inglesa faz todo tipo de produção, desde as voltadas para público restrito até as direcionadas às massas.
“O recurso público garante que os projetos cresçam e floresçam”, explicou Neville, que trabalha como produtor de Radio Drama, desenvolvendo, produzindo e dirigindo peças e séries para a BBC Radio 4 e BBC Radio 3. Entre seus trabalhos estão , ‘Inside’ e ‘Kilbreck’, além de diversas séries de TV, incluindo a premiada ‘The Governor’. Como escritor, David Neville cria projetos para públicos de diferentes idades, trabalhando em bibliotecas, escolas, centros comunitários, centros artísticos, teatros e prisões.
Ele explicou que a emissora recebe diariamente peças novas na rede rádio, feitas por autores de todo o País. “Quando me perguntam o que a BBC quer para produzir, respondo que queremos ouvir a voz do escritor, algo novo, a grande escrita”, disse ele.
O rádio drama é a preferência dos britânicos, segundo os autores. “O gênero desapareceu das Américas e não conheço nem na própria Europa outros lugares que mantenham a dramaturgia no rádio com tanta audiência”, explicou Cris Dolan.
Na programação de rádio da BBC há apenas uma única novela, “The Archer”, que trata da saga de uma família rural e está no ar desde 1951. Os demais programas de dramaturgia no rádio são peças que começam e terminam em 50 minutos, além de seriados, com episódios de 15 minutos e duração de três semanas. São dramatizações de romance e muitas peças originais escritas para rádio.
“A nata de escritores britânicos produz para rádio, o tempo todo”, contou Cris Dolan, ele próprio autor de rádio drama, além de escrever também para teatro, TV e cinema. Poeta e compositor, Dolan é detentor de inúmeros prêmios, incluindo o Festival Fringe First por sua peça Sabina e o McKitterick Prize, por sua novela Ascension Day. É também Specialist Adviser do Arts Council escocês na área de Drama e Literatura.
“A dramaturgia no rádio é a que mais se aproxima da literatura, pois assim como na leitura não é dado ao público o aspecto visual”, observou Dolan. “Isso colabora para o que o trabalho dos escritores e dos atores seja mais profundo”, disse ele.
Segundo os britânicos, o mais importante na rádio dramaturgia é mostrar o que acontece entre as personagens, através de ruídos, choros, risos. “Se o escritor não conseguir formar essas figurações na mente da pessoa, então o texto não terá sentido”, explicou David Neville.
Projeto conjunto – A vinda dos autores britânicos a Curitiba fez parte do apoio que o Britsh Council presta ao Núcleo de Dramaturgia Sesi Paraná. Criado neste ano, o Núcleo do Paraná é inspirado no Núcleo de Dramaturgia Sesi São Paulo – British Council, que foi criado em 2007. O Conselho Britânico traz para Curitiba os autores e diretores que vêm participar das atividades de São Paulo.
“O Núcleo de Dramaturgia é um dos componentes das atividades de intercâmbio cultural entre a Grã-Bretanha e o Brasil”, explicou o diretor do British Council, Geoff Smith. “O Núcleo de Dramaturgia é uma ação importante, porque une duas nações num projeto comum, que é de formação de nova dramaturgia e novos autores”, disse. “A reciprocidade é a palavra chave nas ações do British Council no Brasil e em todos os demais países em que está presente”, afirmou Smith. “As parcerias buscam beneficiar os dois países”, explicou.