Crise internacional

Brasil precisa acelerar reformas para evitar os efeitos da crise mundial, defende Furlan

Brasil precisa acelerar reformas para evitar os efeitos da crise mundial, defende Furlan

Ex-ministro diz que reforma tributária, investimentos em infra-estrutura e redução de gastos e da burocracia são essenciais para reduzir a vulnerabilidade do país

O Brasil não deverá sentir o impacto da crise mundial este ano, mas terá de fazer reformas e ajustes na economia e ampliar investimentos em infra-estrutura para evitar as suas conseqüências em 2009. A afirmação é do empresário e ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do primeiro governo Lula, Luiz Fernando Furlan, que falou nesta segunda-feira (07) a empresários parananenses sobre Globalização e Turbulência Internacional. O evento foi promovido pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep).

“O Brasil depende apenas do Brasil”, disse. “Temos uma boa oportunidade, enquanto o dilúvio não vem, de nos prepararmos para ele”, afirmou, lembrando que esta é a primeira vez que o Brasil enfrenta uma zona de turbulência com empresas nacionais fincadas no mercado mundial. “Temos mais de 20 empresas investindo pesadamente no exterior, aproveitando oportunidades. Grupos como a Gerdau, que tem 50% do seu faturamento no exterior”, exemplificou.

O ex-ministro alertou os empresários que à medida em que o país galga degraus de melhoria de sua economia e credibilidade, fica mais difícil haver modificação da política cambial. “As empresas vão ter que buscar competitividade interna.” No entanto, há espaços de melhorias que podem vir do governo, através da reforma tributária, da redução do custo financeiro, corte dos gastos públicos, redução da burocracia e ampliação dos investimentos em infra-estrutura. “A aceleração do PAC pode nos dar uma certa segurança quanto à crises no futuro”, afirmou.

Furlan também ressaltou a necessidade de medidas que promovam as exportações para evitar um desequilíbrio na balança comercial, cujo saldo, embora ainda positivo, vem caindo nos últimos meses. Entre as medidas necessárias citou os acordos bilaterais entre o Brasil e os demais países, redução de tributos, mais crédito e incentivo ä inovação . “É preciso investir em acordos bilaterais que garantam a abertura de mercado”, disse citando como exemplo a Índia que está se transformando num grande exportador de serviços de informática e telecomunicações, onde o Brasil também poderia investir. No caso do Brasil, afirmou, há dois entraves para a competitividade: a cotação do dólar, que somado aos encargos sobre a folha de pagamento, fez com que salários ficassem mais elevados, e os custos da produção. “Há necessidade de flexibilizar as regras trabalhistas e reduzir a carga tributária”, defendeu.

Furlan disse que, embora ninguém saiba ainda qual vai ser a intensidade e os efeitos da crise nos países, existem duas correntes de pensamento. Uma advoga que deverá haver um efeito em cadeia, causando danos em toda a economia mundial. Outra acredita que os países em desenvolvimento, em especial aqueles que compõem o BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – farão um contrapeso às perdas da economia americana e, eventualmente, da Europa.

Partilhando dessa última corrente, o ex-ministro acredita que o Brasil tem uma vacina contra a crise, mas a cobertura não é total, seu alcance é de 50%, estima. “O país não tem uma divida externa liquida, não tem créditos podres no sistema financeiro, a inflação está relativamente baixa, o crédito, embora tenha crescido bastante ainda é bem menos intenso que nos outros países, e estamos gerando superávit na balança comercial”, resumiu. Luiz Fernando Furlan calcula que o superávit poderá superar US$ 20 bilhões este ano. “Somos detentores de reservas de matérias-primas valorizadas no mercado mundial e relativamente independentes do mercado de energia, sobretudo de petróleo”, lembrou.

Menos otimista, o presidente da Fiep, Rodrigo da Rocha Loures, defendeu uma nova combinação de políticas para conter a apreciação excessiva do real e recuperar o superávit comercial. Neste cenário, o mix adequado para a política econômica, de acordo com Rocha Loures, inclui a redução de gastos correntes do governo, possibilitando mais investimentos em infra-estrutura, redução da taxa de juros, aceleração da compra de dólares e em uma nova política industrial, com prioridade para a inovação e comércio exterior.

O presidente da Fiep acredita que, embora minimize os efeitos da crise internacional no país, o governo federal  já acendeu a luz vermelha. “O país está com a atenção focada na necessidade de não deixar cair as exportações dos produtos industrializados”, disse, resumindo o clima da reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, que contou com a participação do presidente Lula, na semana passada, em Brasília.

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