Agências regionais mudam perfil do desenvolvimento no Paraná
O objetivo básico é articular os atores da sociedade para fortalecimento das ações
O Estado do Paraná está ganhando novos aliados na hora de se pensar, planejar e buscar a implementação de ações que reflitam, de fato, na vida de seus aproximadamente 10 milhões de habitantes, espalhados em 399 municípios. São as chamadas Agências de Desenvolvimento Regional (ADRs), criadas para funcionar como centros de planejamento e execução de projetos que levem em conta as reais necessidades e carências específicas da região. Atualmente funcionam nove ADRs no estado, englobando 161 municípios (40,35% do total existente), onde residem em torno de 4,2 milhões de pessoas.
Cada ADR obedece características próprias mas, em comum, elas procuram juntar todos os atores da sociedade empenhados no fortalecimento das iniciativas. “Entramos numa época em que a sociedade, nos mais variados segmentos, precisa se unir para organizar e praticar ações voltadas ao atendimento de seus anseios”, diz o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Rodrigo da Rocha Loures. Em 2004, ao promover a primeira edição do Congresso Paranaense da Indústria, a entidade detectou o interesse e a relevância das agências para o desenvolvimento de ações regionais. Foram feitas consultas a outras partes do país onde já haviam sido implantadas estruturas semelhantes e coletados subsídios para adequação à realidade paranaense.
“As ADRs vêm ocupar um espaço de articulador das ações, para convergir os empenhos que geralmente são feitos de forma desalinhada pelos diversos atores”, comenta o coordenador de projetos do Sistema Fiep, Osny Taborda Ribas Júnior. Ele lembra que, sem a articulação, as instituições “não conversam entre si” e o esforço acaba colidindo ou, dependendo do caso, causando conflitos. “Temos que nos envolver em projetos de interesse coletivo e trabalharmos em conjunto”, complementa.
NO SUDOESTE – Um bom exemplo é a ADR Sudoeste do Paraná, que foi criada em 2000, com bases municipalistas, e que agora está sendo remodelada com um novo perfil social, atraindo o setor empresarial. Deste modo, passa a convergir atores governamentais, academia, instituições privadas e organizações da sociedade civil. Os resultados já são visíveis: tornou-se escritório de operacionalização dos processos que envolvem a mesorregião da grande fronteira do Mercosul, intermediando o desenvolvimento de projetos como apoio à agroindústria familiar, apoio à piscicultura/vitivinicultura e fortalecimento a duas cooperativas de produtores de cachaça.
São projetos com recursos financeiros da ordem de R$ 1,5 milhão, abrangendo 42 municípios da região, cuja população estimada é de 560 mil moradores. Na opinião do presidente da ADR do Sudoeste, Célio Wesller Boneti, a estruturação do Estado brasileiro entre União, estados e municípios é “positiva, porém complicada”. Explica que a verticalização de processos fortalece a base municipal, “porém se não houver instrumentos de conversação entre as instituições, há prejuízo de ações coletivas estratégicas, como, por exemplo, de alinhamento de logística, de cadeias produtivas e de sistemas de transporte”, comenta Boneti.
NO NORTE – No momento, uma das ações prioritárias das ADRs paranaenses é a difusão de suas finalidades e busca de adesão de participantes aos projetos. É o caso da ADR Terra Roxa Investimentos, sediada em Rolândia, no norte do Estado. Criada oficialmente em 2005, a agência surgiu com o objetivo maior de divulgar e atrair investidores para aquela região, no eixo Londrina-Maringá, cuja população é de aproximadamente 1,5 milhão de habitantes. Conforme o presidente da Terra Roxa e cônsul da Alemanha na região, Adrian von Treuenfels, está sendo realizado um trabalho de conscientização sobre “a necessidade de uma política articulada entre prefeitos, associações organizadas, no sentido de que se entender que temos potencial maior quando trabalhamos em conjunto do que em separado”.
Por isso, a Terra Roxa integra-se a ações implementadas inclusive por outras ADRs, como a Associação de Desenvolvimento Tecnológico (Adetec), de Londrina, e Instituto para o Desenvolvimento Regional (IDR), de Maringá, somando esforços para a busca do desenvolvimento coletivo. Além disso, dando ênfase a uma de suas principais características, a Terra Roxa articula também contatos para a busca de investidores estrangeiros. “Um grupo da Alemanha está querendo investir na produção do açúcar e do álcool”, revela Treuenfels, que, devido à posição no consulado, transita com maior facilidade em países europeus.
Aliás, ele conta que está sendo dada prioridade à divulgação do Paraná, principalmente, no caso, cumprindo a missão da Terra Roxa, no exterior. Numa iniciativa conjunta com a Fiep, o presidente da ADR proferiu, no ano passado, palestra em Frankfurt, para apresentar o perfil do Estado. “Notamos como as pessoas ficam surpresas ao tomarem conhecimento de nossa situação e de nossas potencialidades”, ressalta, observando que, além do capital estrangeiro, o norte do Paraná é “uma grande opção para quem quer fugir das metrópolis e ganhar em termos de custos de produção e de qualidade de vida”.
Mas, no entendimento de Treuenfels, é imperativo o engajamento dos atores responsáveis por ações de desenvolvimento. Tendo, acima de tudo, consciência de que se trata de um processo cultural. “Como conseguir inserir uma região na competição global que existe hoje por investimentos?”, questiona, respondendo: “mediante a industrialização”. E se conta o peso de posicionamentos da China, da Índia “e de toda a coqueluche asiática”, ele ratifica a importância do fortalecimento regional. “Deste modo, podemos ficar mais atrativos, competitivos e conseguirmos nos desenvolver melhor e mais rapidamente”, ressalta, complementando: “Ao ficarmos mais fortes, podemos mostrar ao governo que está lidando com uma região estruturada e articulada e que queremos o retorno dos impostos que recolhemos em forma de ações de promoção do desenvolvimento regional”.
Neste aspecto, é mais um discurso afinado com o movimento liderado pelo presidente do Sistema Fiep, Rodrigo da Rocha Loures, que dissemina a idéia do desenvolvimento sustentável enfatizando a importância do aprofundamento da industrialização em todas as regiões do Paraná, de acordo com as potencialidades locais. E, ao mesmo tempo, conscientizando o empresário a participar mais ativamente do desenvolvimento econômico de suas regiões. “Precisamos ter consciência na hora de votar, para, independentemente de partidos, termos condições de transformarmos a prática que impera entre políticos que chegam ao poder e só se preocupam em tomar decisões que lhes garantam a permanência nos cargos públicos, em detrimento de deliberações que possam de fato refletir positivamente nas ações produtivas da sociedade brasileira”, declara Rocha Loures.
Fiep cria site para estimular ADRs
Para orientar e apoiar as Agências de Desenvolvimento Regional (ADRs) em aspectos que influenciam sua organização e desenvolvimento, o Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) criou o site www.agenciaregionalpr.org.br. Este espaço na internet foi lançado durante a edição 2006 do Congresso Paranaense da Indústria, realizado dias 25 e 26, em Curitiba. Desde então, todos os interessados têm acesso a esta ferramenta cujo propósito é estimular a criação de novas agências e, sobretudo, subsidiar as já existentes.
“Estamos divulgando um conjunto rico de informações sobre ADRs e estimulando a participação principalmente do setor empresarial”, comenta a coordenadora Cristiane Stainsack, informando que o Sistema Fiep, mediante todas as instituições que o integram (IEL, Senai e SESI), está disponível para prestar apoio desde a identificação de demandas, planejamentos e formatação jurídica, à orientação de projetos que visem o desenvolvimento da região.
Fomentar esta cultura, pedagogicamente, é uma das principais finalidades do site. “É um espaço de informação para quem já está envolvido com as ADRs ou que venha a se envolver, pois ali existem propostas, definições, links para outros serviços correlatos, tudo preparado para que o usuário compreenda o que está sendo feito nas agências, conheça e possa entrar contato”, explica a assessora do Sistema Fiep, Gina Paladino.