Comércio internacional

Exportações paranaenses crescem em dólar mas receita em real cai. Defasagem é consequência do câmbio sobrevalorizado. A indústria da madeira é uma das mais penalizadas


Exportações paranaenses crescem em dólar mas receita em real cai




As exportações paranaenses cresceram 4,83% em dólar no primeiro trimestre de 2006, em comparação com igual período do ano anterior. Apesar disso, a receita em real para as empresas exportadoras foi 13,89% menor. Foram exportados US$ 10,02 bilhões (o equivalente a R$ 24,27 bilhões). A comparação é feita pela paridade do dólar médio mensal ponderado divulgado pelo Banco Central. A defasagem é conseqüência do câmbio sobrevalorizado que tem prejudicado praticamente todos os segmentos industriais que exportam, exceto as indústrias que usam componentes importados em seu processo de produção.

O estudo que compara a receita das exportações paranaenses em dólar e em real foi elaborado pelo Departamento Econômico da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) numa análise da balança comercial do Estado. “Os índices revelam que não há motivos para comemoração quando o governo federal anuncia aumento nas exportações já que as empresas vêm sofrendo o impacto negativo da política econômica pela redução do valor em reais recebidos pela venda de seus produtos ao exterior”, comenta o presidente da Fiep, Rodrigo da Rocha Loures. De acordo com dados da Federação, a exportação de manufaturados no trimestre cresceu 12,87% em dólar, mas recuou em 7,37% em reais.

Segundo os economistas da Fiep, a situação revelada no primeiro trimestre veio apenas agravar um quadro que já se verificava ao longo do ano passado. Em 2005, o volume total exportado pelo Paraná cresceu 6,6% em dólar comparativamente ao ano de 2004. Porém, em reais, a receita advinda das exportações caiu 12,49%.

Em 2004, apenas o setor que exporta manufaturados se beneficiou da taxa cambial, registrando variação positiva tanto na receita em dólar quanto em real. Mesmo assim, já começa a haver também uma retração na receita deste segmento. Em 2005, por exemplo, enquanto a receita das exportações de produtos manufaturados em dólar cresceu 26,39%, em reais o crescimento foi de apenas 4,49%.




Madeira – Um dos setores mais afetados é o da madeira até porque depende essencialmente do mercado externo. Mais de 50% das receitas geradas pela indústria é proveniente das vendas ao exterior. Segundo o estudo da Fiep, a variação cambial, que registrou queda de 37,3% nos últimos 36 meses foi a grande responsável pela interrupção do movimento ascendente das exportações paranaenses de madeira.
As vendas externas do complexo madeireiro no ano de 2005 somaram US$ 1,10 bilhão (R$ 2,69 bilhões), resultado 5,6% inferior em relação a 2004, quando as exportações do segmento atingiram US$ 1,17 bilhão (R$ 3,43 bilhões). A redução foi motivada principalmente pelas menores receitas geradas pelos embarques de obras de marcenaria e de madeira compensada, que tiveram suas exportações reduzidas respectivamente em 28,6% e6,4% em comparação a 2004.

“O setor madeireiro está sendo duramente penalizado pela sobrevalorização do dólar”, afirma Roberto Gava, presidente da Associação Paranaense de Indústrias de Base Florestal e coordenador do Conselho Setorial da Indústria Florestal da Fiep. Segundo Gava, todo o segmento que exporta madeira está sendo prejudicado porque a receita proveniente das exportações é inferior ao resultado das vendas ao mercado externo.

“Muitas empresas estão fechando as portas, algumas estão demitindo funcionários”, afirma Gava. Segundo ele, o maior reflexo social foi o grande número de demissões. Só no segundo semestre do ano passado cerca de 5 mil trabalhadores foram dispensados no Paraná. “As empresas que estão se mantendo no mercado e exportando, estão arcando com os prejuízos para honrar os contratos de exportação e não perder clientes”, informa Gava.

Esta situação acontece numa das mais tradicionais empresas do ramo do Paraná, a Indústrias João José Zattar S/A, com 62 anos de atuação no mercado, que exporta 100% de sua produção. O diretor da empresa, Miguel Zattar, afirma que está exportando com prejuízo para não perder clientes que conquistou ao longo de anos. “Não conquistamos clientes do dia para a noite. É fruto de um longo trabalho”, afirma. Além disso, ele diz que a produção brasileira tem uma boa imagem no exterior devido à qualidade e ao fato de as empresas trabalharem com matéria-prima reflorestada, o que é ambientalmente correto.

Zattar informa que a produção de sua empresa foi reduzida em 10% desde meados de 2005. “Só não reduzimos mais porque temos autosuficiência no fornecimento de matéria-prima, mas no setor florestal como um todo a queda na produção está em torno de 30%”, afirma.

Desaceleração – De acordo com o estudo da Fiep, a desaceleração das vendas ao exterior fica ainda mais evidente com a avaliação das estatísticas bimestrais. No período janeiro-fevereiro de 2006, as exportações paranaenses de madeira e suas manufaturas totalizaram US$ 159,3 milhões (R$ 353,3 milhões), o que correspondeu a uma diminuição de -6,3% (-21,42% em Reais) no confronto com o primeiro bimestre de 2005. Com isso, houve continuidade das variações negativas das exportações, considerando os resultados dos 3º, 4º, 5º e 6º bimestres de 2005, quando as receitas caíram -10,8% (-30,3%), -21,0% (-38,1%) , -19,6% (-36,3%) e -5,7% (-23,0%), respectivamente.




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